NA MORTE DE MÁRIO SOARES
Sim, também ele teve qualidades e defeitos. Venha aquele que, sem defeitos, lhe atire a primeira pedra.
Todos nós, seus contemporâneos, lhe conhecemos o curriculum e, portanto, não é necessário repetir aqui o que todos sabemos mas não esqueço que foi com alívio que o vi subir ao Poder depois de, na praça pública, o termos ajudado a suster a onda comunista que em 1975 se preparava para subjugar Portugal.
Naquela terrível época, todos os Partidos democráticos o apoiaram e eu, do CDS, também estive no comício da Alameda Afonso Henriques. Demos-lhe o nosso apoio mas foi ele que «deu a cara». E disso não me esqueço.
Afastados os nossos inimigos comunistas da área da governação, entrámos no período de normalidade do regime que maioritariamente foi escolhido democraticamente (o CDS votou em 1976 contra aquela versão da Constituição) e foi esse o tempo de estabelecermos as fronteiras entre as diversas perspectivas de bem-comum que nos propúnhamos representar: o CDS confirmou-se na democracia cristã, o então PPD reservou para si a social-democracia e o PS confirmou-se no socialismo democrático. E de aliados no tempo em que não se limpavam armas, passámos à posição de corteses adversários.
Assim, morreu hoje um adversário, não um inimigo.
7 de Janeiro de 2017
Henrique Salles da Fonseca