MUITAS E DESVAIRADAS GENTES – 2
Foi Dante Alighieri que nos ensinou que o Inferno é formado por Nove Círculos, Três Vales, Dez Fossos e Quatro Esferas em conformidade com a teoria de que o Universo era formado por círculos concêntricos. O Inferno foi criado na queda de Lúcifer do Céu e torna-se mais profundo a cada círculo pois os pecados são mais graves. Portanto os pecados menos graves estão logo no início e os mais graves no final.
“Deixai toda a esperança, ó vós que entrais!”
Dante e Virgílio às portas do Inferno
O Portal do Inferno não tem portas ou cadeados, somente um aviso que adverte que, uma vez dentro, se deve abandonar toda a esperança de rever o Céu pois de lá não se pode voltar. A alma só tem livre arbítrio enquanto viva. É em vida que se decide pelo Céu ou pelo Inferno. Depois de morta, perde a capacidade de raciocinar e tomar decisões.
Os Nove Círculos do Inferno:
1- Primeiro Círculo, o Limbo (virtuosos pagãos)
2- Segundo Círculo, Vale dos Ventos (luxúria)
3- Terceiro Círculo, Lago de Lama (gula)
4- Quarto Círculo – Colinas de Rocha (ganância)
5- Quinto Círculo – Rio Estige (ira)
6- Sexto Círculo, Cemitério de Fogo (heresia)
7- Sétimo círculo, Vale do Flegetonte (violência)
8- Oitavo círculo, o Malebolge (fraude)
9- Nono Círculo, lago Cocite (traição)
Deixo ao critério do Leitor a escolha do local em que devem penar os políticos do Tamil Nadu por deixarem as suas gentes a chafurdar num verdadeiro caldeirão de imundície em que as pessoas não passam de mais uma parcela do esterco omnipresente.
Raniamma, 80 – abandonada pela filha e pela neta porque deixou de receber a pensão de velhice que os políticos lhe cortaram. Vive actualmente numa casa degradada. Recentemente, esbarrou com um portão de ferro e cegou do olho direito.
Num mundo justo, já se teria constituído um Tribunal Internacional para julgar severamente os responsáveis por uma situação indescritível de miséria, sujidade, ignorância, abandono e morte. A verdadeira negação da Democracia, a ausência de quaisquer princípios do Direito Natural, um Direito positivo certamente distorcido pela corrupção, pela ganância, pela violência, pela fraude. Na pior palavra, traição. Traição à humanidade.
Em aldeias como Kariapatti, Ennam Reddiapatti e Vellore, os pesticidas e raticidas são usados para matar os mais velhos.
E não contentes com tudo o que se vê, matam os velhos e há quem divulgue o método mais eficaz para que os mais novos se libertem do encargo de quem já não produz. Li a reportagem na edição de 22 de Novembro da revista «The week», (págs. 20 e segs.): juntam-se os produtos A, B e C nas quantidades q1, q2 e q3; dá-se essa beberagem ao velho e de seguida um banho de água tépida; unta-se-lhe o corpo com óleos odoríferos, metem-no na cama e dão-lhe um sumo de... Em poucas horas os rins deixam de funcionar e todos os demais órgãos entram em colapso. Caso a falência não ocorra, então há ministrar raticida ou outras mistelas cujas imagens comerciais também divulgam para que não haja enganos.
Janaki, 70 – Ela sabe que a sua filha não tem tempo para tratar dela depois de ter ficado paralítica do lado direito.
Isto passa-se no século XXI num país que se apresenta como a potência mais importante do mundo.
Seeniamma, 97 – Sobreviveu duas vezes ao pesticida Thalaikoothal bem como a dez comprimidos soporíferos. Tendo perdido a vista e a voz, aguarda pela suprema libertação.
E nós ficamos quietos? Se sim, então seremos coniventes.
Lisboa, 30 de Novembro de 2015
Henrique Salles da Fonseca
(Apesar de encharcada pela monção, a pequena égua não foi abandonada pelos donos e está bem nutrida; do mesmo não se podem gabar os velhos humanos)