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A bem da Nação

MITOLOGIA GREGA – 2

 Varoufakis.jpg

Excêntrico pelas camisas que veste, piroso pelo gosto que ostenta com as ditas camisas, vaidoso pelas atitudes que toma sobretudo perante o sexo feminino, tendencialmente caloteiro por apadrinhar a ideia do não pagamento das dívidas, esquerdino por blasfemar contra o capital e marxista por amiúde invocar Marx, ele tudo pode ser mas do que não podemos acusar Yanis Varoufakis é de ser ignorante ou curto de ideias.

 

Sim, já parti o bico a dois lápis com que vinha anotando à margem o livro “O MINOTAURO GLOBAL”, tal o calor da minha discórdia com alguns dos muitos temas de que ali se trata. Mas tenho que reconhecer que é obra interessante para quem gosta de temas económicos, de política internacional e quejandos... Podemos não concordar mas isso é outra questão. Livro a ler pelos esquerdinos para deleite intelectual e a estudar (para lhes conhecermos os tiques) pelos não esquerdinos.

 

A primeira edição, inglesa, data de 2011, ou seja, muito antes de o Autor imaginar (julgo eu) que viria a ser Ministro no seu país; a edição que me chegou às mãos, em português, data de Junho de 2015 e não sei sobre que revisão da obra inicial deriva na certeza, porém, de que transmite a ideia de que inicialmente se tratava dum trabalho centrado nos EUA mas a que posteriormente o Autor acrescentou uma perspectiva já sob forte influência do actual drama grego. Ou seja, parece-me algo como o slogan «leve dois e pague um».

 

Em traços gerais, para Varoufakis, a história económica divide-se em dois períodos: até à crise de 2008; depois da crise de 2008. No seu parecer, estamos agora (presumo que se refira a 2015) numa autêntica aporia. Ele acha que estamos num beco sem saída e que não se sabe minimamente o que vai acontecer de seguida mesmo que nada se faça. Ou sobretudo se nada se fizer. E como não sabemos no que demos, também não temos remédios a sugerir.

 

Quer dizer, ele acha que a única coisa que há a fazer é não pagar.

 

E como ele acha isso, a minha discórdia é estaminal e as vítimas são os bicos dos lápis.

 

Mais serenamente, o Autor dá-nos uma interpretação histórica muito interessante sobretudo a partir do início da guerra de 39-45 até Brentton Woods mas antes dessa digressão faz-nos um resumo das grandes correntes de opinião sobre as causas da crise de 2008.

 

Pese embora a inversão cronológica (o que me faz crer no tal acrescento das novas edições relativamente à obra inicial), o resumo das causas da crise de 2008 é interessante mas claramente discutível:

  1. O fracasso da imaginação colectiva para compreender os riscos do sistema que estava em funcionamento – acontecimentos rápidos de mais para que muitas mentes brilhantes conseguissem compreender o que se estava a passar;
  2. Deficiências da regulamentação em vigor – os operadores tiveram excessiva liberdade de actuação na sequência da desregulamentação dos mercados;
  3. Ganância irreprimível – todos queriam ganhar tudo, imediatamente;
  4. Origens culturais diferentes na Europa continental e no eixo UK-USA – excessiva ou insuficiente flexibilidade laboral, segurança social vs. globalização, etc;
  5. Toxicidade do «produto» financeiro – gato por lebre;
  6. O fracasso sistémico do capitalismo – e aqui entorna-se o caldo relativamente a quem (como eu) não é marxista.

 

Por hoje, fico-me por aqui com um diálogo que não existe no livro e que, portanto, é mitológico:

Pergunta de Varoufakis (pág. 35 in fine): - Alguém pode refutar a proposição de que o capitalismo, enquanto sistema, tem a capacidade incomum de se minar a si próprio?

Minha humilde resposta: - Sim, pode; a História. E mais lhe digo, Senhor Professor: o capitalismo, enquanto sistema, tem a capacidade incomum de se regenerar sempre que algum acidente de percurso o tolhe. É como o rabo decepado dos lagartos: volta a crescer.

 

(continua)

 

Setembro de 2015

 

De Denang para Hué.JPG

Henrique Salles da Fonseca

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