MERDEKA – 6
Sobrepondo o mapa da Indonésia ao da Europa e fazendo coincidir Lisboa com a cidade indonésia mais ocidental, Banda Aceh, a localidade mais oriental que aparece no mapa do Google, Jayapura (Papua), corresponde quase a Astana no Cazaquistão. Estou a referir algo como sete mil quilómetros ao longo dos quais se distribuem nada menos do que 17.508 ilhas. Visitámos duas (Java e Bali), ficaram 17.506 por visitar. Foi em duas das que não visitámos que houve terramotos, tsunamis e erupções vulcânicas. Desta vez, a Lei das Probabilidades funcionou a nosso favor. «Sampai kapan?» é como eles perguntam quando nós perguntamos «Até quando?». Haja Deus!!!
Com mais de 700 línguas e linguagens (a que os eruditos chamam dialectos), houve que fazer alguma coisa que assegurasse um entendimento comum. E como nas épocas fundacionais da República ainda não havia as comunicações que hoje aproximam toda a gente e respectivos linguajares, inventaram uma nova língua a que chamaram «bahasa indonesia», ou seja, «língua indonésia». Feita para aproximar os povos, a preocupação dos linguistas também se centrou na simplificação e, vai daí, todos os verbos se conjugam apenas no Infinito. Não há por lá Presentes, Futuros, Pretéritos nem Indicativos, Conjuntivos e outros que tais… Semântica e Sintaxe? Bem, parece que alguém se esqueceu dessas particularidades - vão pondo palavras umas a seguir às outras e ainda vou investigar se há por lá lugares apropriados para as vírgulas.
Então, na escola, as crianças aprendem a língua local, o indonésio e o inglês. Não está mal, não. A escolarização é universal e eis como todos os “não velhos” são trilingues.
Breve pesquisa internética fez-me saber que as Universidades são muitas ministrando os cursos que todos esperamos que elas ministrem e que, para além dessas, há muitas mais instituições de ensino pós-secundário. Como não estou em idade de ingressar nalguma carreira académica, deixei-me ficar por uma pesquisa sumária mas como pode haver quem me leia e se interesse por isso, sugiro que iniciem a busca em
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_universities_in_Indonesia
Outra particularidade que me surpreendeu pela positiva foi o facto de não ter visto miséria. Em todo o lado por onde andei – e andei por muito lado nessas duas ilhas que visitei – não vi um único esmoler. Descortinei, isso sim, por trás de uns tapumes carregados de trepadeiras floridas no centro de Jakarta uns quantos casebres que resistem à onda de progresso que à sua volta se manifesta. Algo me fez lembrar a «Lei Cristas do arrendamento urbano»…
Talvez que os ditos casebres não envergonhassem qualquer paisagem rural mas, ali, no centro da Capital, destoam claramente. E assim, em vez de violentarem os proprietários com espúrias expropriações e os residentes com horríveis despejos, põem-lhes uns tapumes embelezados com trepadeiras que até lhes dão uma vida mais florida.
E hoje fico-me por estes arranjos florais. Até amanhã.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
(algures na Indonésia, sei lá onde…)