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A bem da Nação

MERDEKA – 1

 

Tenha o Leitor a bondade de não me levar a mal o título deste escrito e da sua repetição nos prolongamentos que se lhe seguirão já que em indonésio, a nossa tão cara «Liberdade» se diz «Merdeka». Sim, é óbvio que, apesar da nossa grande influência naquelas paragens, os indonésios não nos terão pedido opinião quando quiseram dar um nome à liberdade.

 

E até que ponto existe influência portuguesa naquelas paragens?

 

Sim, existe uma influência real que se iniciou no início do séc. XVI e se prolonga até hoje pois, com o interregno relativo à tentativa portuguesa de instalação de um regime comunista em Timor-Leste, tudo o mais na História se traduziu por um ambiente de relações calmas e bilateralmente proveitosas.

 

E então, foi assim:

 

  • Em 1513, quatro navios portugueses chegaram a Kalapa[i] (ilha de Java), o porto principal do reino hindu de Sunda. Vinham de Malaca, conquistada havia dois anos, à procura de especiarias, principalmente de pimenta. As relações de comércio desenvolveram-se com normalidade e no dia 21 de Agosto de 1522 foi firmado um Tratado de Amizade entre Sunda e Portugal.

 

  • Contudo, em 1527 Kalapa foi assaltada e destruída por Fatahilaha Kahn, muçulmano, que era inimigo tanto do Rei de Sunda como dos portugueses.

 

  • Reconstruída pelos conquistadores, a cidade recebeu o nome do terceiro Sultão do Sultanato de Banten, Pangeran Sungrasa Jayawikarta III, abreviadamente Jakarta. E se os religiosos e militares portugueses saíram, os nossos comerciantes voltaram a frequentar o novo burgo e suas cercanias com grande utilidade para todos, vendedores e compradores das especiarias que por ali abundavam.

 Ternate.jpg

  • O prestígio de Portugal (leia-se utilidade comercial e militar) e a influência religiosa eram tantos naquela região que em 1573 o Sultão de Ternate (Molucas) doou toda a ilha de Amboíno ao seu padrinho de baptismo, Jordão de Freitas, indo morrer a Malaca não sem antes ter deixado em testamento todo o reino de Ternate ao Rei de Portugal. Contudo, D. António de Noronha, Vice-rei da Índia, terá entendido que seria mais útil um fantoche no trono de Ternate que seguisse docilmente as orientações portuguesas do que assumir directamente os constantes conflitos na região pelo que não aceitou a doação e instalou Hairum, irmão do Sultão defunto, no trono que estava de facto vago. E parece que a decisão foi acertada pois o novo Sultão seguiu o exemplo do seu irmão e antecessor consolidando a amizade com os portugueses a quem convidou em 1578 para construírem uma fortaleza. E o comércio continuou...

 

  • Mas o Sol não foi doirado por muito mais tempo para nós pois, entre espanhóis e holandeses, o «destino» quis que saíssemos em 1605 dessas paragens. Saímos oficialmente mas ficámos escondidos dos calvinistas.

 

  • Foi em 1610 que o general holandês Pedro Bothe fundou Batávia para apagar a antiga Jakarta sendo necessário esperar pela total independência da Indonésia em 1949 para que o nome holandês desaparecesse e Jakarta retomasse o seu lugar nos mapas.

 

  • Mas os holandeses não conseguiram apagar-nos por completo pois permanecem vestígios significativos um pouco por todo o lado. Por exemplo, na ilha das Flores a norte de Timor, ainda hoje a fórmula de proclamação dos rajás de Sikka reza que:

Viva Altíssimo Senjor Don [nome do empossado que não há muito tempo foi Alexius Ximenes da Silva], sei boa saudi, El Quam Deos Nossa Senjor dê longa vida permanosa El-Rei reinjho de Sikka. De baixo de Lisboa.

 

Esta última expressão “De baixo de Lisboa” significa que, mesmo decorridos tantos séculos, os rajás de Sikka se consideram súbditos do Rei ou Presidente de Portugal. Eles ainda hoje nos tratam assim e nós, esquecidos, que fazemos por eles?

 

(continua)

Jakarta - 1 (SET18).jpg

 Henrique Salles da Fonseca

(em Jakarta, SET18)

 

[i] - Não confundir com «kapala» que significa «cabeça».

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