MEMÓRIAS DE UM PROGRESSISTA DESILUDIDO
Vou respigar alguns parágrafos de duas crónicas que Vasco Pulido Valente escreveu, em devido tempo, no jornal Público.
Em 13/07/2014 escrevia:
«Para a minha geração..., o 25 de Abril chegou a tempo. Andávamos pelos 30 anos, com uma profissão e uma longa vida à nossa frente. Íamos finalmente mudar Portugal. Fazer um novo cinema, um novo teatro, uma nova literatura, uma universidade exemplar e um Estado democrático. Íamos varrer a miséria atávica do país, que manifestamente nos seguiria.
Em vez disso... Infelizmente, a nossa "sorte" incluía também uma certa esterilidade pessoal e a amargura duma colectiva desilusão. E à nossa volta sucessivos governos criavam as ruínas da nossa velhice».
Em 04/03/2006 escrevia:
«De facto, cada vez mais releio os livros de antigamente, suponho que à procura de um pequeno canto de sossego e sanidade. O Estado também aflige. Por favor, não tomem isto como propaganda política. Imaginem o Estado durante Salazar e Caetano. Existia a PIDE e a censura: e mil tiranetes por aqui e por ali. Não vale a pena repetir o óbvio. Em compensação, o Estado não queria mandar na vida de ninguém. Não proibia que se fumasse. Deixava o trânsito largamente entregue a si próprio. Não andava obcecado com a saúde e a segurança. Não regulava, não fiscalizava, não espremia o imposto até ao último tostão. Um indivíduo, pelo menos da classe média, passava anos sem encontrar o Estado: em Portugal, em Inglaterra, em Itália, na Europa. Acreditam que nunca voltei a sentir o espaço e a liberdade desse tempo?»
Jorge Nogueira Vaz