MARCELO CAETANO - 3
Pedagogo de excelência, Marcelo Caetano dirigia-se a qualquer audiência com a maior facilidade. Assim foi que fez um programa na TV e nas Rádios a que chamou «conversas em família». Eram monólogos e não conversas nos quais abordava temas da actualidade política que cativavam quem o ouvia. Neste encurtamento da distância entre a população e o Governo, consta que alguém lhe disse algo como «quando Salazar falava ninguém percebia o que ele dizia, mas toda a gente entendia o que ele significava; quando o Senhor fala, toda a gente percebe o que diz, mas ninguém entende o que significa». Eis a diferença entre quem se sente dono da casa e quem se sente convidado; um, anda em frente, mas o outro tem que se acautelar e fazer jogos de cintura, ser cerimonioso. Salazar contava com a lealdade cega dos mastins, enquanto Marcelo tinha que acautelar as próprias canelas. Mas, apesar dos perigos muita coisa tinha que mudar. O Regime cheirava a mofo, era fundamental recuperar o tempo perdido sem que os anéis e, muito menos, os dedos fossem perdidos. Então começou pelo mais fácil mudando os nomes da «União Nacional» para «Acção Nacional Popular e da PIDE para DGS. Se nos mastins apenas mexeu no nome, na ANP conseguiu introduzir um grupo reformador que na Assembleia Nacional ficou conhecido por «Ala Liberal» cuja missão foi a do debate dos temas que (também) Marcelo queria fazer aprovar, mas que acabavam chumbados ou desvirtuados pela maioria dos ultras. Entretanto, naquilo que não dependia da Assembleia, o Governo foi fazendo obra nova criando o «Banco de Fomento Nacional», o «Fundo de Fomento e Exportação», a «COSEC», o Porto e Complexo industrial de Sines, integração de rurais e de pescadores na segurança social (assim deixando de terem que trabalhar até à morte), constituição em ritmo acelerado de Caixas Profissionais de Previdência e “last but not least”, abriu o ensino superior à iniciativa privada.
O PIB crescia, crescia…, mas os «ultras» não terão reparado nisso e esticaram a corda…….