MARCELO CAETANO – 2
Com a sua típica e estonteante destreza verbal, Américo Tomás falou à Nação informando que os relatórios clínicos referiam a irreversibilidade da invalidez do Doutor Salazar. Com grande pesar, sentia-se na obrigação de o substituir no cargo de Presidente do Concelho de Ministros pelo que nomeara o Professor Doutor Marcelo José das Neves Alves Caetano a quem encarregara de formar Governo.
Cumpridas as formalidades constitucionais, Marcelo Caetano decidiu proferir o discurso inaugural do seu novo mandato com toda a pompa. No hemiciclo da (então) Assembleia Nacional, com transmissão em directo pela TV e rádios, espaço completamente cheio pelos próceres do Regime. E eram tantos nas imagens da RTP…! Mas não vi Régulos da Guiné nem Liurais de Timor. Discurso formidável, a fazer História, mas destinado a acalmar os que ali estavam e que se acotovelavam para aparecer nas imagens. O discurso da continuidade, com a diferença de passarem a ser governados por gente comum e não mais por um génio da Humanidade.
DISCURSO INAUGURAL DO CONSULADO CAETANISTA
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Peça notável, sem dúvida, de grande erudição e que, pontuada pelos «muito bem», típicos dos louvaminheiros de então, também deu esperanças aos evolucionistas. Começava a «Primavera Marcelista».
Após o discurso no Hemiciclo seguiu-se a cerimónia de cumprimentos no Salão Nobre onde Marcelo e seus Ministros se puseram a jeito para serem cumprimentados pela longuíssima fila de «regimistas». Chegada a vez do sucessor de «Jimmy» como mastim alfa, Marcelo terá dito algo como «O Senhor deve agora ir cumprimentar o Ministro do Interior que é o seu superior hierárquico». E com estas brevíssimas palavras perdeu a fidelidade cega e absoluta que os mastins prestavam ao fundador do Estado Novo, Salazar. Assim se escreve o futuro.