MARCELO CAETANO - 1
Foi durante a guerra civil espanhola que os italianos tiveram as mais amplas oportunidades para exibirem a sua prodigiosa inutilidade militar, a ponto de Franco se ter visto obrigado a inventar um pretexto qualquer para os devolver à origem sem que Mussolini se ofendesse.
Perante tal escândalo, Salazar ficou desconfiado do modelo político italiano e pediu a Marcelo Caetano que fosse presidir (?) à cerimónia de inauguração da Cátedra de Estudos Portugueses da Universidade de Roma e que, discretamente, tentasse averiguar da credibilidade do Regime de Mussolini. Corria o ano de 1938.
Como era de esperar, Marcelo saiu-se bem da missão que lhe fora confiada. Sobre a parte oficial da missão terá produzido documento que se encontra nalgum arquivo e sobre a parte não oficial terá, presumivelmente, feito relato verbal a Salazar e o que dessa conversa transpareceu foi apenas que Marcelo achou que o Regime de Mussolini era apenas uma comédia teatral (a Salazar não era necessário nem conveniente empregar a palavra mais apropriada, a de «Fantochada»).
Salazar decidiu despegar-se do modelo italiano não mexendo, contudo, no corporativismo e só mexendo em alguma coisa pra que tudo continuasse na mesma. Mas só depois de Espanha acalmar-se.
Esperou por 1940 para nomear Marcelo Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa. O «S» na fivela do cinto das fardas deixava de significar «Salazar» para passar a significar «Servir», o exacerbamento do patriotismo passava a ser feito apenas pelos cânticos e pelo desfile no 1º de Dezembro enquanto a grande actividade passou a ser desportiva na ginástica, hipismo e vela; nas horas vagas, alguma Ordem Unida para induzir a disciplina e o «espírito de unidade» - mas isto era só para quem não estava inscrito num desporto.
Estava na hora de dizer aos remanescentes do Integralismo Lusitano que ou se integravam ou zarpavam e que o Direito Canónico era «coisa» da igreja e não do Estado Português. Pedro Teotónio Pereira integrou-se no Regime e serviu como Embaixador de Portugal em vários postos, nomeadamente em Madrid e em Washington, enquanto Francisco Rolão Preto optou pelo exílio só regressando depois do 25 de Abril de 1974.
Sem prejuízo da sua docência na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa, Marcelo despolitizou o mais possível a Mocidade Portuguesa, mas em 1944 deu a missão por fastidiosa.
Dedicou-se plenamente à Universidade até Salazar o convidar para seu Delfim como Ministro da Presidência.
Das muitas iniciativas que tomou, duas ficaram para a memória: uma campanha de alfabetização de adultos e a criação da RTP.
Seguiu-se a Reitoria da Universidade e todas as convulsões das greves académicas que tanto incomodaram o Regime… até que a cadeira de Salazar se partiu.