LIDO COM INTERESSE – 88
Título – LEONARD BERNSTEIN
Autor – Barry Seldes
Editora – Bizâncio
Edição – 1ª, Outubro de 2010
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Conceitos relevantes (que fui buscar à Wikipédia) para se perceber um dos tipos de questões que interessavam a Bernstein:
- Música tonal - é toda a música que apresenta uma tonalidade definida, ou seja, uma hierarquia entre as notas utilizadas, girando em torno de uma principal;
- Música atonal - é a música desprovida de um centro tonal, ou principal, não tendo, portanto, uma tonalidade preponderante;
- Dodecafonismo - as 12 notas da escala cromática são tratadas como equivalentes, ou seja, sujeitas a uma relação ordenada e não hierárquica. As notas são organizadas em grupos de doze notas denominados séries as quais podem ser usadas de quatro diferentes maneiras; 1) série original, 2) série retrógrada (a série original tocada de trás para a frente), 3) série invertida (a série original com os intervalos invertidos) e 4) retrógrado da inversão (a série invertida tocada de trás para a frente). - Todo o material utilizado numa composição dodecafónica, seja melódico (estruturas horizontais) ou harmónico (estruturas verticais), deve ter origem na série.
Mas ele interessava-se também por outros tipos de assuntos. Por exemplo, pela política. E, neste aspecto, foi para mim uma surpresa ao ficar a sabê-lo da esquerda mais activa nos EUA, a ponto de em tempos ter pertencido ao Partido Comunista da América – o que conseguiu encobrir nas várias investigações de que foi alvo ao longo da vida pelas autoridades da segurança interna, nomeadamente o FBI e comissões constituídas nos tempos da «caça às bruxas» de Joseph McCarthy.
Nesta matéria, aliás, o livro é muito detalhado pois parece que o respectivo Autor, Barry Seldes, se não é militante dessas bandas, imita muito bem, tal a militância que ele próprio exala ao longo de toda a obra.
Contudo, musicalmente, Bernstein era conservador pois sempre alinhou pela música tonal e guerreou a atonalidade dos compositores mais reactivos contra Hitler, Mussolini e outros ditadores que tais. Mais: defendia a tese de que a música tonal, melodiosa e harmónica, é natural no ser humano e que a atonal só se percebe como reacção contra situações que se pretende denunciar.
Nós, leigos, conhecemos o West Side Story como a sua obra mais importante mas, afinal, ele tem outras que passaram com maior ou menor êxito pela Broadway e por diversas salas de concerto nas Américas e na Europa. Mas ficou por criar aquela «obra maior» que ele tanto tentou compor e nunca conseguiu. Porquê? Porque «quem muitos burrinhos toca, algum fica para trás». Actividade política por paixão (a causa israelita também o ocupou muito) e regência de orquestras por vocação e necessidades monetárias, não lhe deixaram tempo para a composição mais profunda e ficou-se por obras que ele próprio acabou por considerar menores.
Enfim, um personagem controverso em muitos aspectos da vida – a que o livro se refere amiúde - só recebendo louvores unânimes na divulgação musical e no brilhantismo das suas interpretações.
Para mim, reconheço com tristeza, foi um ícone que se desequilibrou do pedestal e quase caiu.
Janeiro de 2019
Henrique Salles da Fonseca