LIDO COM INTERESSE - 84
Título – DIZ-ME QUEM SOU
Autora – Júlia Navarro
Tradutor – Sérgio Coelho
Editora – BERTRAND EDITORA
Edição – 1ª, Novembro de 2011
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De uma diva, não se espera que apenas cantarole.
Esta frase pode dar a ideia de que se trata de um livro bem humorado mas, pese embora alguma graça que possamos encontrar aqui ou ali, o tom geral da obra é duma seriedade absoluta raiando mesmo a sisudez histórica. Não chega às profundezas mórbido-fantasiosas de Edgar Alan Poe mas ultrapassa-o durante algumas cenas, em especial as relacionadas com os «mimos» dispensados pelo KGB e pela Gestapo aos respectivos «hóspedes».
São 1070 páginas de texto nesta edição que refiro e por isso mesmo sugiro ao futuro leitor que se equipe de alguma ajuda física para suporte do livro, a menos que queira logo de início ficar com uma dor na mão direita e, a partir da metade, sentir a dor passar para a mão esquerda.
De maneira a não estragar a leitura dos futuros leitores, apenas refiro que se trata da história duma belíssima jovem espanhola loira, magra e alta (o que só por si foge ao padrão por que esperávamos numa espanhola) que começa durante a Segunda República espanhola, passa pela II Guerra Mundial e pela Guerra Fria estendendo-se até à queda do Muro de Berlim.
Nem sei como classificar os personagens pois são vários os de importância central. Trata-se de um bisneto que foi encarregue por uma tia de desvendar a vida duma misteriosa bisavó que durante várias gerações foi tabu na família. Os narradores são vários e todos são importantes pois sem eles nada saberíamos. Sim, é uma tessitura do mais curioso que tenho lido e que, para nosso grande espanto, não conduz ao labirinto. Pelo contrário, tudo é rectilínio na marcha do tempo e a cada página nos sentimos mais interessados pelo que irá decorrer ao longo da História da Humanidade neste período do séc. XX.
É na página 924 que encontro um enigma pelo que desafio o leitor a descobrir como é que a visita entrou na casa se o visitado, paralisado e agarrado a uma poltrona, estava sozinho e longe da porta. Ou estaria numa cadeira de rodas?
Sim, é um romance mas é tão verosímil que só perderá em cultura histórica quem o não ler.
E não se esqueça, leitor: são 1083 páginas contadas.
Mais: assim como com a diva, de uma espanhola também não se espera que passe pela vida a cantarolar; espera-se que cante a plenos pulmões correndo a pauta por completo.
E foi isso que fez Amélia.
E quem é Amélia? Leia o livro.
Novembro de 2018
Henrique Salles da Fonseca