LIDO COM INTERESSE - 101
Título – PERFÍDIA – Conde do Farrobo
Autor – António Alves Caetano
Editora – Edição do Autor
Edição – Dezembro de 2020
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São 532 páginas de texto e 16 de imagens a que se juntam mais 40 de informação bibliográfica, índice onomástico e índice do plano da obra.
Da profundidade da investigação dá testemunho a bibliografia que identifica as fontes directas como de outros tipos. Investigação ao nível do que de melhor se pode esperar de um membro da Academia Portuguesa de História.
O Autor, licenciado em Economia pelo ISCEF onde desempenhou a sua carreira académica até ao topo, dedicou-se ao estudo da História e, mais especificamente, ao desenvolvimento económico português. Daqui surgiu o estudo do trabalho de desenvolvimento protagonizado por Joaquim Pedro Saldanha, 2º Barão de Quintela e 1º Conde do Farrobo. Claramente, um dos mais notáveis desenvolvimentistas do séc. XIX português cuja acção se repercutiu até à actualidade, nomeadamente na actividade seguradora. Mas, vítima da inveja e das suas irmãs, a mesquinhez e a cobiça, morreu na miséria depois de ter sido um dos homens mais ridos de Portugal se não mesmo o mais rico da sua época.
Boa apresentação, a da contracapa…
Não por acaso, a última palavra de Os Lusíadas é INVEJA. No caso vertente, com o envolvimento de «gente da melhor sociedade», acho ter atingido as culminâncias de PERFÍDIA.
Farrobo foi objecto da inveja dos poderosos: os próceres dos diferentes quadrantes do arco governatiVo comportaram-se como um só quando se aperceberam de que do fabuloso contrato recebido como recompensa régia de D. Pedro e D. Maria II se poderia cavar a sua ruína.
No processo judicial em que Farrobo foi réu inventado pela ganância dos subcontratadores do tabaco, centenças e acórdãos dos Tribunais da Relação favoráveis ao Conde foram anulados pelo Supremo por minudências processuais, não pela inovação de mais lídima doutrina jurídica.
O Conde do Farrobo assumiu a direcção da Companhia de Seguros Bonança em 1839, para do seu bolso pagar as volumosas dívidas da empresa, salvando-a da falência iminente. Assim, a Bonança pôde chegar ao século XXI e ser incorporada na Companhia de Seguros Fidelidade.
Em 1843, o Conde do Farrobo fundou um banco – Companhia União Comercial – dotado de tal pujança três anos após, que o Governo, depois de criar o Banco de Portugal, em 1846, pretendeu que se lhe associasse para fortalecer o recém criado.
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Esta, sim, uma obra de leitura obrigatória para quem queira combater a inveja, a mesquinhez e a cobiça; uma obra destinada a envergonhar esses tantos conluios ocultos que hoje se diz que enxameiam e diminuem Portugal.
Janeiro de 2021
Henrique Salles da Fonseca