KALIMERA - 1
Há sensações mais agradáveis do que essa de nos sentirmos analfabetos. É que basta afastarmo-nos dos lugares de Atenas e suas redondezas mais turisticados para que os letreiros gregos sejam um verdadeiro despeneiranso para quem tem a mania de que é sabichão. E lá fui recordando o alfa, o beta, o gama, o delta e seus seguidores mais usados em matemática para começar a soletrar uma palavra ou outra e, daí, tentar extrair alguma informação. Mas os resultados eram tão minguados que foi com alívio que, chegando ao centro, comecei a encontrar letreiros bilingues. Lembrei-me depois do tau, do ró, do fi e do psi para já não falar do nosso amigo pi. Conclusão: vai aprender e deixa-te de peneiras.
Crise? Não vi. À semelhança do que se vê em qualquer outra capital europeia, topei com alguns sem-abrigo que me pareceram alcoólatras e não propriamente desgraçadinhos escorraçados da sociedade estabelecida pela crise por que a Grécia passou. E aqui aplico o Pretérito do verbo «passar» porque não vejo motivo (aparente) para o conjugar no Presente. E é claro que estou a referir-me a esses tempos no Indicativo. Eu indico que por ali não há crise porque conjuntivamente, a questão seria a de saber se ela (a crise) por ali passasse, se o aspecto da vida que passava à minha frente seria aquele. Impossível.
Portanto, das duas, uma: ou não há crise ou eles são todos uns fingidos.
Vamos por partes…
A crise não existe enquanto os credores permitirem, enquanto não puxarem o tapete. E será que vão puxar? Não creio. Arriscavam-se a perder tudo o que lá enfiaram. Assim, pelo menos, vão recebendo os juros.
Mas a desfaçatez com que eles mentem aos credores é que me parece fantástica: fazem uns Orçamentos todos certinhos com a vontade alemã e logo de seguida se ficam nas tintas e fazem o que querem. Exactamente ao contrário do que se passa em Portugal onde o Governo faz Orçamentos todos folclóricos para agradar à «geringonça» para logo depois os regarem com uma chuva de cativações que os põem à maneira dos credores.
Mentira por mentira, prefiro a nossa.
Até que me deparei com um taxista que me explicou tudo.
Já lá vamos, fica para a próxima.
3 de Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca