JOGO DE CADEIRAS
Da esquerda para a direita: Mendes Cabeçadas, Oliveira Salazar, Mendes dos Remédios, Manuel Rodrigues e Vicente de Freitas
Já ninguém se lembra ou sabe disso, mas há 90 anos teve início um jogo de cadeiras que iria decidir o futuro da Nação para o próximo meio século. Em 28 de Maio o marechal Gomes da Costa, (que tinha comandado o Corpo Expedicionário do Exército português, em França, durante a I Guerra Mundial) envergou a sua farda e "com o incondicional apoio da oficialidade do Exército e cinco milreis no bolso", iniciou em Braga uma marcha sobre Lisboa - que efectuou de comboio - e, aqui chegado, depôs o Governo em exercício, encerrou o Parlamento e aprisionou Bernardino Machado, Presidente da moribunda República.
No caminho, em Santarém, o marechal pactuara com o comandante (mais tarde almirante) Mendes Cabeçadas, figura que inspirava confiança aos círculos afectos à Maçonaria, a quem convidou para formar governo. Entretanto enviou mensageiros a Coimbra para convidar 3 professores ligados ao Centro da Democracia Cristã a participar no novo Governo: Mendes dos Remédios (Educação), Manuel Rodrigues (Justiça) e Oliveira Salazar (Finanças).
A foto junta (que encontrei no arquivo pessoal de meu pai, oficial de Marinha que serviu sob as ordens de Mendes Cabeçadas) documenta a conversa no Palácio da Ajuda, em 4 de Junho, entre os professores e o comandante Cabeçadas (de costas, em conversa com Salazar). Note-se que as botas eram de rigor.
Foi aqui e então que começou o jogo do empurra: Salazar não chegou a acordo com Cabeçadas e voltou para Coimbra, onde Mendes dos Remédios o iria repescar em 10 de Junho. Foi pois o último a entrar. Cabeçadas foi o primeiro a saltar fora, convidado a sair por Gomes da Costa "a pedido dos jovens tenentes do Exército".
Isto aconteceu em 17 de Junho. Só então Salazar tornou publica a sua adesão. A segunda vítima foi o próprio marechal deposto pelos mesmos tenentes em 9 de Julho seguinte. Este foi exilado para os Açores. No seguimento, o General Carmona, então Ministro dos Estrangeiros, assumiu a Presidência que conservaria até à sua morte (1951).
O novo Presidente fez constar que não prescindia da presença de Oliveira Salazar no governo. Salazar foi deposto por doença em 27 de Setembro de 1968.
Verificou-se pois que o último a entrar – o que não mostrou pressa - foi o que durou mais tempo.
28 de Maio de 2016
Luís Soares de Oliveira