INDOCHINA – 17
De nós os quatro, o meu amigo Pepe teve um problema cardíaco de que felizmente recuperou plenamente, as duas Senhoras têm problemas de coluna (a Graça foi operada há cerca de 6 meses e ainda está convalescente) e eu, que sempre incho nos climas quentes, tinha 16 kgs a mais do que deveria ter para me sentir confortável. Para além do que não andava de bicicleta há mais de 50 anos. Então, a visita ao delta do Mékong seria feita com duas bicicletas, dois riquexós e a moto do guia. Sim, como se tivéssemos 20 ou 30 anos de idade. Acho curiosa esta maneira de as agências de viagens programarem as visitas sem se cuidarem de saber se os percursos a nado são compatíveis com quem não sabe nadar, se os percursos a cavalo podem ser feitos por quem tenha asma dos fenos, se o alpinismo serve a quem tenha atracção do abismo. Felizmente, monto a cavalo diariamente. Mas a dinâmica ciclista é completamente diferente da equestre e eu tive que me adaptar num ápice sob pena de estragar a «festa» ao grupo. E lá fomos de bicicleta e riquexó para um percurso de 7 kms por ciclovias empoleiradas em diques ou no meio de agricultura frondosa e trânsito a condizer com região muito povoada.
A Amélia e o Pepe, algures no delta do Mékong
Almoçámos muito bem em casa duma avó que deve ter sido uma grande Senhora na região, uma casa magnífica que já viu melhores dias, uma família enorme que dispersou entre Saigão e Itália, uma sobrevivente da guerra contra os franceses, da guerra contra os americanos e do regime que foi comunista durante algum tempo. A guerra contra os chineses não chegou ali. Mas a Senhora fez um acordo com algumas agências de viagens e lá se vai mantendo de pé, ela própria e a casa.
Região ubérrima, não dá para imaginar o que terá sido a vida dos soldados americanos num cenário destes em que um vietcong se poderia esconder por trás de qualquer arbusto à distância de um braço não muito estendido. E com o povoamento tão disperso mas, mesmo assim, tão próximo, era passar de quintal em quintal por caminhos que naquela época deviam ser lodaçais horríveis mas hoje são todos cimentados e de passeio muito agradável – até para um septuagenário que não montava uma bicicleta há mais de 50 anos.
E dali rumámos a Saigão onde chegámos duas horas depois por uma auto-estrada sem Via Verde (porquê, Brisa nossa?) muito movimentada que ali começava para acabar para lá de Hanói na fronteira com a China.
Estafados, voltámos ao hotel em que alguns anos antes se hospedara Bill Clinton e jantámos de novo no restaurante «Nossa» em homenagem à música do brasileiro Michel Teló https://www.youtube.com/watch?v=hcm55lU9knw que para nós não deixa de ser um português com sotaque.
E pronto, creio que os leitores também já estão fartos destas minhas crónicas e por aqui me fico.
Feliz Natal e que 2015 confirme as esperanças que todos sempre depositamos no futuro.
FIM
Lisboa, 21 de Dezembro de 2014
Henrique Salles da Fonseca
(à porta da limousine)