HUMOR DIPLOMÁTICO
Quem se fia na electrónica corre o risco de contar com meios que por vezes falham acabando por se desiludir com os progressos do que all we take for granted.
Foi o caso do Luís Soares de Oliveira, Embaixador, que me enviou várias vezes a mesma mensagem porque o sistema o avisava de que a mensagem não tinha seguido. E quando lhe fiz saber que já tinha recebido a dita mensagem, logo disse que a insistência lhe fazia lembrar uma conhecida cena da nossa História Diplomática.
O Rei D. Carlos recusara o pedido de agrément a Porras y Porras (apelido de uma distinta família espanhola) que o Rei Alfonso XIII de Espanha queria acreditar como Embaixador em Lisboa e o Conde de Arnoso, secretário de D. Carlos, perguntando se a recusa era por causa do nome, o rei respondeu: - Não é o nome, é a insistência.
Já conhecendo a passagem que sempre considerei admirável, respondi ao Luís Soares de Oliveira que: Essa do D. Carlos é famosa e vale bem uma divulgação para que outros conheçam o espírito de humor do Rei. Ele poderia ter muitos defeitos – em que o principal era ser monárquico – mas tinha muitas qualidades que merecem realce.
Logo na volta do correio e sem repetições, responde o meu ilustre interlocutor: «Quanto ao D. Carlos ser monárquico, tenho dúvidas. Uma vez que assistia no Teatro D. Maria à estreia de uma peça de D. João da Câmara, propôs condecorá-lo ao que o dramaturgo respondeu: - Não posso aceitar pois sou republicano. Ao que D. Carlos respondeu: - Aí está uma posição em que o meu cargo me impede de o apoiar.»
Henrique Salles da Fonseca