HOMENAGEM OLÍMPICA
Aqui está uma de Esopo
Que me deu no goto:
«A porca e a cadela (rivalizando em fecundidade)»
Uma porca e uma cadela
Disputavam entre si,
Com certa simplicidade,
O prémio da fecundidade.
A cadela afirmava que a camisola amarela
Na questão da maternidade
Devia ser para ela
Já que entre os quadrúpedes conhecidos dela
Nenhum, como ela,
Tinha tão rápidas ninhadas.
Em grandes risadas
A porca lhe replicou:
“Isso podes dizê-lo, minha bela,
Mas não te esqueças de acrescentar,
Se verdadeira quiseres parecer,
Que os teus filhotes nascem cegos
Sejam eles brancos ou negros
Ou mesmo furta-cores!”
A fábula mostra que os actos, as acções
Não se julgam, segundo gerais conceitos,
Pela velocidade no seu andamento,
Mas pelo seu grau de acabamento.
Isto contou Esopo
Sem nenhum logro,
Que ele tinha entendimentos especiais
Com os animais,
E sabia que em questão de fecundidade,
Há os que se podem gabar mais
Em relação aos acabamentos,
Até porque aprenderam a conquistar boas posições,
E assim considerem todos os mais, ceguinhos,
Só porque não seguem os mesmos caminhos.
Com efeito, o mundo é uma manta de retalhos
Em questão de posições e opiniões,
Os mais fecundos, espertalhões,
Os menos fecundos, mais iracundos
Contando tostões.
Não sejamos, porém, tão pessimistas
No que toca, pelo menos, à velocidade.
Citemos o nosso Carlos Lopes,
Rosa Mota e outros mais
Campeões da nossa e outras nações,
Provando que a velocidade
É uma forma de andamento
Que gera bons galardões,
E o nosso espanto.