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A bem da Nação

«GRATO PELA FÉ QUE RECEBI DEVIDO A ESTE POVO»

Patriarca das Índias Orientais em Fátima.png 

HOMILIA DO PATRIARCA DAS ÍNDIAS ORIENTAIS

FÁTIMA, 13 DE OUTUBRO DE 2014

 

Amados irmãos e irmãs:

Permitam-me que comece por relatar uma experiência muito pessoal e muito preciosa: como sabem, é comum em lares cristãos que a criança seja introduzida à ideia de Deus com uma palavra: JESUS. Antes de saber quem é o Pai e o Espírito Santo, a criança sabe quem é Jesus e sabe que a Cruz vem ligada a Ele. Deu-se o mesmo comigo. A minha santa mãe falava-me de Jesus e sempre que via um crucifixo, levava-me a beijá-lo. O homem na cruz tinha de ter uma mãe, o ente mais próximo à criança. E assim, a segunda imagem ligada aos céus que ficou gravada na minha mente foi a imagem de Maria. Só que as nossas mães não costumam chamar Maria à Mãe de Jesus; dizem Nossa Senhora. Portanto, para mim, o nome da Mãe de Jesus era, simplesmente, Nossa Senhora. Ora, a minha mãe era devotíssima da Senhora de Fátima; por conseguinte, no meu entendimento infantil, fiquei por alguns anos na convicção de que Fátima era o apelido de Nossa Senhora: Nossa Senhora... de Fátima!

 

Foi, portanto, muito especial o relacionamento que tive com a Senhora de Fátima, já desde pequenino! E hoje, o meu coração transborda de alegria por me encontrar neste espaço bendito, a prestar pessoalmente a minha homenagem à Virgem Santíssima neste seu Santuário predilecto que, dia após dia, acolhe peregrinos, vindos de perto e de longe.

 

Queridos irmãos e irmãs, convosco sou também peregrino, vindo da Índia longínqua, mais especificamente daquele que foi, até meados do século XX, o Estado da Índia Portuguesa, quero dizer, Goa, Damão, Diu, Dadrá e Nagar Haveli. Hoje em dia, estes territórios estão dispersos pela vasta Índia e são constituídos por distritos administrativos separados, mas que continuam eclesiasticamente unidos sob uma só Diocese, a Arquidiocese de Goa e Damão.

 

Agradeço, muito cativado, o amabilíssimo convite que me foi dirigido por Sua Exª Reverendíssima o Bispo de Leiria-Fátima, o Senhor D. António Marto, para presidir às celebrações deste dia festivo aqui em Fátima. Este vosso convite deu-me imensa alegria, porque me proporcionou a rara oportunidade de vir até cá juntar-me a vós a cantar os louvores da Santíssima Trindade, guiados afectuosamente pela nossa Mãe Santíssima. Muito obrigado!

 

Saúdo de uma forma especial, in absentia, S.ª Ex.ª Reverendíssima o Patriarca de Lisboa, o Senhor D. Manuel Clemente, que é também o Presidente da Ilustríssima Conferência Episcopal Portuguesa. Uma saudação amiga aos meus queridos Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio – em especial ao Reverendíssimo Padre Carlos Cabecinhas, Reitor deste Santuário – Religiosos e Religiosas, fiéis comprometidos e ainda membros de outras confissões e crenças, aqui presentes, bem como a todos quantos nos estão unidos através da televisão e de outros meios de comunicação social.

 

Estamos no Santuário da nossa Mãe dos Céus. Somos seus filhos. E o Evangelho de hoje fala-nos de uma celebração de família, de uma festa de núpcias para a qual estão convidados Jesus e sua Mãe. Maria, como sempre, cheia de graça e caridade, está atenta à mais simples necessidade do próximo e sempre pronta a ajudar. Quando se apercebe que a família que os tinha convidado já não tinha vinho para servir e sabendo que tal situação expunha a pobre gente a um sério embaraço, ela, quase instintivamente, volve-se para Jesus. E apesar de o seu Filho manifestar total alheamento e parecer mesmo recusar o seu pedido de ajuda em prol da família angustiada, ela diz aos serventes: “Fazei tudo o que Ele disser.”  

 

Caros amigos: a mensagem que Maria tem para nós, hoje... e sempre, é a mesma: “Fazei tudo o que Ele vos disser; obedecei-Lhe em tudo e sereis satisfeitos, até à abundância”.

O que é que Jesus nos diz para fazermos? O que é que Ele nos pede? Na primeira leitura, temos São Pedro fazendo a sua primeira pregação, no dia do Pentecostes. A mensagem principal de Pedro é a mesma da primeira pregação de Jesus, feita no início da sua vida pública: “Arrependei-vos!”… “Arrependei-vos!”.  

 

Toda a família humana é convidada a esse encontro salvífico com Cristo. Para encontrar Cristo nas nossas vidas, para sermos banhados pela Sua luz, precisamos de nos arrepender dos nossos pecados, de rejeitar a Satanás e de abraçar a salvação; de rejeitar a morte e de abraçar a Vida, de ressuscitar! Aliás, este é o tema adoptado pelo Santuário durante todo este mês dedicado a Maria: “Arrependei-vos, porque Deus está perto”.

 

A segunda mensagem de Pedro é: “Sede baptizados”. O baptismo é o portal da salvação, o sacramento que nos torna filhos de Deus e irmãos de Jesus. E vem logo a terceira mensagem. Pedro promete: “Recebereis o dom do Espírito”. Na verdade, queridos irmãos e irmãs, não podemos viver a vida de Cristo sem recebermos o dom do Espírito. Qual é, então, a função do Espírito Santo nas nossas vidas?

 

Na segunda leitura de hoje, o Apóstolo João recorda-nos que aquele que recebeu o Espírito passou da morte para a vida. O Espírito, portanto, dá vida e livra-nos da morte do pecado!

 

Quando alguém ouve o chamamento de Cristo, converte-se a Ele, pede o baptismo e finalmente recebe o dom do Espírito Santo; nasce uma nova criação, nasce – ou renasce – um Cristão. A nova vida que ele recebe tem de ser nutrida, fortalecida. Esta missão cabe fundamentalmente à família. É na família que o compromisso da fé é energizado e encorajado – não há melhor lugar para que isso aconteça – porque a família é a base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem, pela primeira vez, os valores que as guiam durante toda vida.  

 

Por outro lado, no entanto, a instituição familiar, como sabemos, está em grande crise. As rápidas e profundas transformações a que estamos assistindo na sociedade vão provocando um certo enfraquecimento ou mesmo abandono da fé na santidade do matrimónio, pondo em causa o próprio conceito de família.  

  

Consciente de que esta instituição básica da sociedade constitui um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja está activamente envolvida na promoção dos valores perenes de família e procura ajudar os fiéis a descobrir a beleza e a grandeza do chamamento da família para o amor e para o serviço da vida.

 

Um sinal eloquente deste profundo interesse da Igreja pela família é a celebração que está a decorrer nestes dias em Roma, da Assembleia-Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que Sua Santidade, o Papa Francisco, convocou. Bispos escolhidos de todas as partes do mundo, entre os quais o nosso Patriarca de Lisboa, estão a debruçar-se sobre a problemática pastoral da família, especialmente no contexto da evangelização. E a Igreja espalhada pelo mundo está a rezar por eles.

 

Acho, portanto, oportuno fazermos uma breve reflexão sobre a missão da família Cristã no mundo de hoje, nomeadamente, a missão de viver, de revelar e de comunicar o Amor de Deus na sociedade humana.

 

  1. Em primeiro lugar, a tarefa principal da família Cristã é a de viver em comunhão num constante empenho por fazer crescer o amor: o amor entre o homem e a mulher e também entre os membros da família: entre pais e filhos, irmãos e irmãs, parentes e familiares. Mais fundamentalmente, a família está ao serviço da vida. Vimos na primeira leitura como é necessário recebermos o dom do Espírito para esse fim, porque sem Ele somos estéreis. Com Ele tornamo-nos fecundos e revelamos ao mundo a comunhão do amor, baseada no respeito pela vida e pela dignidade humana, que nos é doado pelo facto de termos sido criados à imagem de Deus. O casal Cristão, portanto, coopera na missão divina de dar e de proteger a vida e assim promove uma cultura da vida, colocando-se na contracorrente das actuais culturas da morte.

 

  1. Em segundo lugar, a família tem uma certa ligação orgânica com a sociedade pois os cidadãos saem, com efeito, da família e nela encontram a primeira escola daquelas virtudes humanas e sociais que irão definir o seu contributo para o desenvolvimento da mesma sociedade. A família Cristã, portanto, colabora de um modo muito profundo na construção do mundo, transmitindo aqueles valores e virtudes que lhe são tão próprios.

 

  1. Em terceiro lugar, como igreja doméstica, a família Cristã participa profundamente na vida e na missão da Igreja. Como uma comunidade crente e evangelizadora, a família permanece em religiosa escuta da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, proclama-a com firme confiança através dos acontecimentos diários e dos problemas, dificuldades e alegrias que eles contêm. Esta missão apostólica da família tem as suas raízes no baptismo e recebe da graça sacramental do matrimónio uma nova força para transmitir a fé, para santificar e transformar a sociedade. São Paulo, na sua epístola aos Gálatas, diz que “um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gal 5:9). Basta a família Cristã ser ‘um pouco de fermento’ para ser um sinal luminoso da presença de Cristo e do Seu amor aqui na terra!

 

Que Nossa Senhora de Fátima obtenha de Deus abundantes bênçãos para as nossas famílias e as torne fontes de vida, de concórdia e de uma fé sólida, alimentada pelo Evangelho. Três anos somente nos separam do Centenário das Aparições. Enquanto Portugal se prepara para este Grande Jubileu, peçamos à Virgem que abençoe esta grande nação, que tão importante papel exerceu na expansão da Boa-Nova, tanto no Oriente, de onde venho, como no Brasil. Grato pela fé que recebi devido a este povo, formulo sinceros votos para que esta nação, que um dos Papas apelidou de “cristianíssima”, continue a dar ao mundo um corajoso testemunho dos valores do Evangelho, sempre guiado pelo materno carinho da sua Celeste Padroeira.

 

D. Filipe Néri Ferrão.png

D. Filipe Néri Ferrão

Arcebispo de Goa e Damão, Patriarca das Índias Orientais, Primaz da Índia

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