GRÃ-BRETANHA
NAÇÃO DA MAGNA CARTA - FLEXIBILIZA A EUROPA COM O REFERENDO
Os britânicos disputaram entre si, os europeus tremeram e os órgãos de decisão em Bruxelas começam a acordar. Resultado do referendo: 51,9% pelo Brexit e 48,1% pela permanência na UE.
Quem mais contribuiu para este resultado foi a vontade da UE querer impor quotas de refugiados ao Reino Unido e pretender obrigar o país a tratar os imigrantes da UE como trata os próprios nacionais, além de velhas facturas em aberto entre a velha Europa e a velha Grã-Bretanha.
A Libra desvaloriza-se e deste modo diminuirá a atracção de imigrantes provindos da Zona Euro.
Em Bruxelas, a língua oficial inglêsa perde a sua força em favor do alemão e do francês e talvez em favor de línguas internacionais como o português e o espanhol.
A UE tornar-se-á ainda mais dependente da Alemanha que embora perdendo a companheira de luta Grã-Bretanha na defesa do liberalismo económico americano; a Alemanha sentir-se-á, por outro lado, mais influente no sentido de defender uma UE forte com um Euro forte; terá como opositor a Europa latina com a França à frente. A força da economia dá porém razão à Alemanha e não ao sul, porque esta como potência económica, pode com os Estados Unidos e com a China forçar as economias menos competitivas. As forças empenhadas na construção de uma Europa das duas velocidades ganharão mais peso.
Os movimentos de regionalização e de federalização na Europa receberão maior impulso na Espanha (Galiza, Catalunha e País Basco) e no Reino Unido também.
As relações da federação, no Reino Unido, entre Irlanda do Norte, Escócia, Gales e Gibraltar obrigarão a coligações e a formulação de interesses contraditórios. A Irlanda e a Escócia que querem a UE, têm novos trunfos. E o caso do Gibraltar em certo modo também.
O referendo mostra um Reino Unido dividido em dois blocos e em regiões contraentes! Um exemplo concreto de uma UE em que uns resmungam e outros aplaudem mas de maneira ordenada e educada. A desordem da globalização exige a criação de ordens (blocos fortes), doutro modo, quem mandará nisto tudo é a China e os EUA com a comparticipação de outras potências como a Alemanha e a Grã-Bretanha.
Os movimentos nacionalistas ganham mais força porque a direita militante e a esquerda militante embora contraditórias se unem contra o projecto UE.
Tornar-se-ão os britânicos os mentores da Europa, a partir das ilhas?
Nos próximos dias 28 e 29 de Julho realizar-se-á uma cimeira dos Estados membros em Bruxelas.
A UE não pode permanecer como era, doutro modo seguir-se-ão outras desistências iniciadas pela exigência de referendos noutros Estados membros.
A sociedade britânica reagiu bem à decisão tomada. Ela foi o berço da democracia na Europa da Idade Média. Já no séc. XII-XIII havia contendas entre a Europa continental e a Grã-Bretanha que no meio delas criou a Magna Carta.
Dos conflitos de Inglaterra (1199-1216), com a França e com o Papado, surgiu na Inglaterra a primeira Magna Carta que limitava bastante o poder do Rei. Ela prescrevia que o rei não podia criar impostos sem ouvir os bispos, os condes e barões. Ainda no séc. XIII forma-se o parlamento que veio a dar origem à Câmara dos Lordes (nobres e clero) e à Câmara dos Comuns formada pelos cavaleiros e burgueses. Esta Magna Carta serviu de modelo para a limitação dos poderes dos reis no sentido de uma democratização que pouco a pouco se estende por toda a Europa. Da Inglaterra temos muito a aprender; entre outras coisas o respeito e o reconhecimento da comparticipação do rival no bem comum.
António da Cunha Duarte Justo