GOA E O INSTITUTO NACIONAL DE OCEANOGRAFIA
A propósito da próxima visita do PM à Índia, pode ser interessante referir factos que se prendem com Portugal.
Em 1961, após tentativas frustradas de negociação, Goa foi anexada pela Índia. Dado o pacifismo, a acção revestiu-se de grandes cuidados para minimizar os efeitos e atrair os cidadãos a aceitar o facto consumado; foram tomadas medidas para que a população fosse respeitada na sua identidade e cultura e pudesse ver benefícios rápidos da anexação.
Dentro da linha habitual de actuação mandou-se fazer um estudo da situação económica de Goa, com o levantamento do que existia e do muito que havia a fazer para recuperar os atrasos e dar condições mínimas de bem-estar à população.
Daí saiu um plano com prioridades para os dirigentes: melhoria das infraestruturas; criação de rede de saneamento, inexistente; abastecimento de electricidade, quase inexistente; muito mais ensino, acesso à saúde, à cultura, aos empregos, inexistentes fora da agricultura; melhoria da agricultura, da indústria e dos serviços...
O último governador-geral, nos estertores do regime, fizera o seu melhor, decidindo fazer um pouco de tudo onde tudo faltava. A sua actuação, apesar de tardia, foi positiva e instaurou uma nova dinâmica de fim de regime, que terá servido de pauta para os novos governantes. Por exemplo, nos últimos dois ou três anos deu um grande impulso ao ensino primário, a apontar para a sua generalização, coisa que veio a acontecer poucos anos depois.
Após uma "expedição internacional ao oceano Índico", em 1960, o governo central indiano tomou a decisão de criar o NIO – National Institute of Oceanography, integrado no CSIR – Conselho para a Investigação Científica e Industrial. Ter-se-á posto o problema da localização, pois procurava-se que cada instituição de investigação do CSIR pudesse ficar num dos estados da Índia. Optou-se por pô-lo em Goa, perto de Pangim, num local conhecido por Dona Paula. Não terá sido estranho à localização o saber e domínio português dos oceanos durante séculos, com os conhecimentos desenvolvidos pela Escola de Sagres.
O NIO é o mais importante laboratório indiano dedicado à oceanografia. Aspectos relevantes do seu trabalho incidem no estudo do comportamento do Norte do oceano Índico, uma bacia tropical batida por fortes ventos sazonais das monções: os 200 metros superiores formam a parte mais activa do oceano e os estudos do NIO mais citados são sobre a sua circulação e a biogeoquímica dessa camada. O NIO conta hoje com 170 cientistas, dos quais 120 doutorados; tem 210 pessoas no staff técnico e de apoio, além de 120 no administrativo. A própria instituição proporciona, aos que nela trabalham a oportunidade de aproveitar a investigação para as suas teses de doutoramento. São inúmeros os doutorados que emigraram para os Estados Unidos, trabalhando em temas que investigaram no NIO e onde ganharam as competências.
Sempre me pareceu de enorme interesse uma aproximação do Instituto de Investigação do Mar português e do NIO, para projectos comuns de investigação e transferência de conhecimentos mútuos, como faz a Fundação Champalimaud, em temas da visão, com o Prasad Eye Institute, de Hyderabad.
Todos os laboratórios do Estado, indianos, dedicados à investigação científica e Industrial deveriam rever os seus métodos de avaliação dos cientistas, talvez ainda marcados por um estilo enraizado no socialismo indiano igualitário, sem reconhecer méritos pessoais. Apesar de alguma dinâmica no registo de patentes, elas são em número exíguo comparadas com instituições de países inovadores como os EUA. Estes valorizam as patentes, que são um valor que se pode negociar. É preciso encontrar formas de remunerar com justiça, com prémios pecuniários na proporção do que cada um produz com o seu esforço ordenado e inteligente. Dos cientistas muito qualificados é de esperar resultados de grande alcance; há que estimulá-los para tal.
2 de Dezembro de 2016
Eugenio Viassa Monteiro
Professor da AESE-Business School
e dirigente da AAPI – Associação de Amizade Portugal-Índia