FREEDOM - 4
155000 ton dwt
15 decks acima da linha de água
9 metros de calado
4500 passageiros
1600 tripulantes
Pode não ser o maior navio de cruzeiros, mas é muito grande. Eis o «FREEDOM OF THE SEAS»!
Maior que este, só tinha visitado o portaviões americano «FORRESTAL» numa sua vinda ao Tejo.
Impressionante, o peso com que um conjunto de gotas de água aguenta!
* * *
Cruzeiro de Miami às Bahamas e volta com escalas em Cocobay e Nassau.
Ao zarparmos de Miami, notei a profusão de barcos da Polícia a apitar e a «correr» à nossa volta enquanto manobrávamos. Não passavam de «polícias de trânsito» pois que, também por ali, o sentido da liberdade tem que ser domado para não se transformar em caos e potencial tragédia. Será que aquele enxame de «Davids» imagina conseguir parar os dois «Golias» que nos encarreirávamos para o mar? Se na cidade assinalei um grande sentido de responsabilidade, aqui, na água, tive a sensação de que em terra todos eram responsáveis porque todos os irresponsáveis eram embarcadiços no porto.
Mar liso como mesa de bilhar. E assim seria até ao fim do passeio.
E, a propósito de passeios, faço agora uma breve resenha dos extremos por que já andei e dos povos que contactei entretanto: o ponto mais setentrional que já visitei foi o Cabo Norte no extremo norte da Noruega; o Cabo Horn foi o extremo sul da América do Sul; Alotau foi o ponto mais oriental no extremo leste da Papua Nova-Guiné; Santiago do Chile e Lima do Peru disputam o meu limite ocidental. Entre estes extremos, dá para imaginar que conheço muito mais do que Cacilhas e suas gentes. Pois bem, nunca vira mole tão ruidosa como esta «salada» de americanos eufóricos e latinos no seu ruidoso natural, nem nas manifestações de apoio ao Almirante Pinheiro de Azevedo.
Esta turba era ruidosa, mas ordeira. Eufórica, talvez, por este ser o cruzeiro da vida deles. E, então, deu para os ver com olhos de simpatia (apesar dos decibéis) ficando nós satisfeitos com a satisfação alheia. Mas, apesar disto, sou levado a pensar que o ruido e a intelectualidade variam em escalas inversas. Estimulantes à parte, o mesmo direi das latitudes e das altitudes. Conclusão: um intelectual norueguês que viva no cimo de um fiorde é um chato macambúzio e um favelado carioca delira com desfile no Sambódromo.
Outra particularidade que me anda a atazanar tem a ver com a velocidade estonteante com que certas pessoas falam. Algumas delas chegam a atirar a língua contra o palato com uma força tão grande que aquelas partes nem parece pertencerem-lhes. Os pioneiros do velocímetro linguístico que notei foram os madrilenos e admiti que tentassem recuperar o tempo perdido na «siesta» mantendo padrões europeus de produtividade, mas «castanholas» linguísticas são portuguesas e brasileiras. À falta de melhor explicação, creio que é apenas preocupação de dar nas vistas sem que lhes passe pelas cabeças que apenas conseguem irritar quem os ouve. Nesta viagem cruzei-me com acelerados linguísticos, mas não tive que aturar nenhum castanholeiro da fala.
Foi em Nassau que a guia deve ter batido todos os recordes de velocidade oral, Falou ininterruptamente numa velocidade estonteante durante as duas horas do circuito e admito que todos os bahamenses (ou bahamitas?) tenham ali caído de paraquedas poucos dias antes pois absolutamente nada nos foi dito sobre a História do País. Em Miami ainda passámos por uma estátua de Juan Ponce de León, mas nas Bahamas nem o pirata da perna de pau é referido. E o mais triste é que os turistas parece não estarem minimamente interessados em «velharias» da História. Como dizia o Embaixador americano em Londres quando o Lord lhe perguntou sobre a sua genealogia, «Ah sim! A minha genealogia começa comigo.»
(continua)
Janeiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca