«FASTEN SEAT BELTS»
ou
AS MARAVILHAS DA FÉ
Sim, Caro Leitor, este é um texto polémico e por isso começo por lhe sugerir que aperte o cinto de segurança. É que, pese embora eu achar que a fé não se discute, não me sinto obrigado a nem sequer referir esse tipo de matérias. Cito-as acriticamente e cada Leitor que se dedique à adivinhação sobre o que penso.
E se a maior parte das vezes que se cita a fé se esteja a tratar de temas religiosos, aparecem também outras ocasiões em que podemos citar dogmas laicos.
Num calendário coincidente com a realização do Congresso dos comunistas leninistas stalinistas portugueses, os dogmas laicos jorram por tudo quanto é sítio do Pavilhão Paz e Amizade de Loures e basta escolher…
Então, começo logo pelo nome do próprio pavilhão em que se realiza o Congresso, o da paz e amizade, quando é sabido que o comunismo é militarista, expansionista, unicitário e, portanto, monolítico e, bem pior, taliónico. Ou seja, o comunismo é autista e só cultiva a paz e a amizade consigo próprio. À semelhança do islamismo cujo primeiro grande dogma consiste na atribuição a Maomé da autoria do Corão apesar de se saber que o Profeta não lia nem escrevia. Mas os dogmas são assim mesmo, não se discutem e são apenas para quem neles crê.
A semelhança que existe entre o comunismo e o islamismo é o tratamento dado aos não comunistas e aos infiéis: o fuzilamento e a decapitação. A paz com os decapitados e a amizade com os fuzilados.
E se quanto a semelhanças entre estes «benignos» me fico por aqui, o marxismo tem outras facetas que me levam ao espanto por ainda haver quem, nestas primeiras décadas do séc. XXI, nele veja um caminho para o bem comum.
Que bem comum é possível num cenário em que a uma classe social é atribuído o monopólio das decisões com prejuízo total das demais classes?
Que bem comum é possível quando o conceito de democracia consiste no nivelamento por baixo pelo despojamento de todo o conforto individual?
Que bem comum é possível quando a diabolização do lucro conduz inevitavelmente ao aniquilamento do investimento?
Que bem comum é possível quando a iniciativa individual é esmagada pelo planeamento central?
Que bem comum é possível prometer quando o determinismo histórico falhou clamorosamente em 1989 pela queda do muro de Berlim e pelo desmoronamento da URSS?
Pois é Caro Leitor, vejo-me obrigado a reconhecer que já escrevi textos mais imparciais e acríticos.
Mas com tanto dogmático por aí além a apregoar loas, também eu me sinto no direito de afirmar um dogma: este é um texto imparcial e… adogmático!
Apesar da minha «imparcialidade», o melhor é mantermos os cintos de segurança apertados não vá aparecer alguma verdade jorrada lá do pavilhão de Loures e nos magoarmos caindo de espanto.
Novembro de 2020
Henrique Salles da Fonseca