ESCARAVELHO - 1
NOTA PRÉVIA – Hoje trato da Teologia dos egípcios antigos e de outras crenças associáveis. Se quem me lê gosta de temas escaldantes, fique desde já sabendo que tudo foi concebido e alcandorados à categoria de religião sob temperaturas que facilmente rondavam os 40º Centígrados; se prefere temas políticos, de traições, corrupção e «levantamentos de rancho», então leia o que segue imaginando tudo isso porque, afinal, hoje temos a mesma essência que já definia esses antigos. Sim, evoluímos tecnologicamente, mas não essencialmente porque, nomeadamente, temos as mesmas aspirações básicas: o conforto na Terra e a eternidade nos Céus.
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Hórus, Isis, Osíris, Rá (a que também há quem chame Ré), Amon e mais não sei quantos deuses a quem já perdi a conta e os nomes… Muito importante, a definição do Bem simbolizado por Hórus e do Mal correspondendo ao crocodilo, ou seja, os primórdios de uma Moral da qual deverá ter resultado uma Ética (sobre que nada me foi contado) e, daí, o exercício da Justiça no âmbito de uma sociedade organizada, isto é, um Estado.
O eixo do mundo definido pelo Nilo, com o Sol (Rá ou Ré) a nascer todos os dias do lado da vida (a margem leste) e a desaparecer nas profundezas do mundo dos mortos (a margem esquerda); cidades e templos do lado da vida, a margem direita e as necrópoles (nomeadamente, o Vale dos Reis) na margem esquerda. Todas as noites o Sol a visitar o mundo subterrâneo dos mortos na vida eterna para voltar a nascer para aquecer o Nilo e fazer a humidade que é a fonte da vida.
Se o busto que lhe conhecemos corresponde à realidade que a esculpida teve, Nefertiti ainda hoje tem lugar cativo no podium da estética feminina.
Primeira mulher do faraó Amenófis IV, mais conhecido por Akenator, protagonizaram uma revolução religiosa substituindo o politeísmo até ali reinante pela imposição de um Deus único, Ator. Obviamente, lançaram no desemprego toda a classe sacerdotal politeísta e isso criou grande instabilidade num regime cuja legitimidade assenta na inspiração divina e cuja legitimação depende da classe sacerdotal. Por alguma razão, o faraó seguinte subiu ao trono com 10 anos de idade – bem antes da «idade da razão» - sendo induzido a revogar o monoteísmo de Ator e regressando ao politeísmo onde Amon recuperou o culto que perdera para Ator, Essa criança passou à história com o nome de Tutank Amon. Morreu aos 19 anos (antes de fazer alguma reviravolta como fizera o seu paizinho).
Tudo, claro está, sob a égide do amuleto da sorte e da felicidade, o escaravelho.
(continua)
Abril de 2023
Henrique Salles da Fonseca