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A bem da Nação

ENIGMAS DA HISTÓRIA – 2

Antes do mais, recordo que todas as informações contidas no texto anterior resultam do esforço alheio de investigação, sendo que eu me limito a fazer como o cuco que usa o ninho laboriosamente feito por outros. Mas, já que não estou em condições de investigar (forte ambliopia), posso especular e tentar extrair conclusões mais ou menos certas mas plausíveis, pelo menos.

* * *

Então, o que me parece ter acontecido foi que na guerra de 14-18, Agostinho Lourenço terá sido integrado na 2ª Repartição do Comando Português, a da informação e contrainformação e, daí, foi um instante até se aproximar dos homólogos ingleses – não esqueçamos que a Força Expedicionária Portuguesa estava enquadrada no Sector Britânico – que, por sua vez, estavam próximos ou eram membros do MI6. Parece-me que foi aqui que se encurtaram as distâncias entre Agostinho Lourenço e o MI6, se é que as distâncias não se anularam mesmo.

De seguida, «o homem do bigode» veio de licença a Portugal e não voltou para o cenário da guerra.

É aqui que faço entrar Sidónio Paes na cena deste folhetim nomeando Agostinho Lourenço para o cargo de Governador Civil de Leiria a fim de extirpar os movimentos grevistas na Marinha Grande. Mas, feito o «serviço», não aqueceu o lugar pois foi nomeado Director da Polícia Preventiva a qual, segundo informam os nossos investigadores, terá sido instalada à imagem e semelhança do MI6, nomeadamente nas técnicas de «convite dos prisioneiros à fala».

Fim do Consulado Sidonista em 1918 e «o homem do bigode» desaparece da circulação. E desaparece durante 15 anos, o que não é brincadeira. Se me disserem que ele foi «estagiar» no MI6, eu acredito – tempo mais do que suficiente para confirmar fidelidades.

Reaparece em 1933 como Director, o primeiro, da PVDE – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado que em 1945 mudou de nome (mas creio que de mais nada) para PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado. Lourenço manteve-se no cargo de 1933 a 1956, quando atingiu o limite de idade e se aposentou do serviço ao Estado Português. Depois de aposentado, por empenho do MI6, foi Director da Interpol durante cinco anos. De tudo, para concluir que Agostinho Lourenço era homem de confiança dos serviços de segurança britânicos.

E terá já sido nessa posição de confiança que actuou enquanto foi Director da PVDE/PIDE. Por alguma razão, era o único não-Ministro que acedia directamente ao Presidente do Conselho de Ministros e com ele despachava semanalmente.

Ora, tendo o Doutor Salazar desempenhado o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiro de 1936 a 1947, foi a Sevilha também nessa qualidade, o que lhe poupou imenso trabalho não tendo que instruir intermediários. E fez-se acompanhar pelas únicas pessoas da sua especial confiança: o motorista, o Embaixador Pedro Theotónio Pereira, seu braço direito para casos bicudos e Agostinho Lourenço como seu contacto directo com os «bas fonds» dos Aliados. Lourenço foi a Sevilha como membro relevante da comitiva do Doutor Salazar, não como Oficial de Segurança que, aliás, nunca foi. Da segurança do Presidente do Conselho e sua comitiva encarregaram-se dois Oficiais que a História apagou.

Sob a influência diplomática de Ramon Serrano Súñer (pela calada, o «Jamon Serrano») – que até então já tinha sido ministro seis vezes – a Espanha estava prestes a quebrar a neutralidade para alinhar militarmente com o Eixo.

Ora, em Sevilha, o Doutor Salazar garantiu a Franco que o embargo internacional a Espanha seria atenuado com a passagem dos abastecimentos dos Aliados através do território português desde que a Espanha mantivesse a neutralidade. Franco agarrou a ideia e, passado pouco tempo, dispensou Súñer de quaisquer funções ministeriais. Realmente, nunca mais Súñer voltou a ser ministro até que, com 102 anos de idade, se entregou ao Criador.

Se quiséssemos fazer humor, diríamos que o Doutor Salazar fizera uma mexida fundamental no Governo Espanhol. Mas, sem humor, temos que reconhecer que naquele encontro secreto em Sevilha aconteceram coisas importantes:

  • A neutralidade espanhola foi muito prejudicial ao Eixo que já não contava com a Itália para nada;
  • O Doutor Salazar demonstrou estar claramente do lado dos Aliados evitando que estes invadissem os nossos «portaviões» Açores e Cabo Verde;
  • Que três cérebros bem ginasticados valem bastante mais do que algumas Divisões Blindadas.

* * *

Acabo como comecei: os factos são fruto de investigação alheia; a especulação é minha. Esta, pode servir para alguém, com mais imaginação, escrever folhetins «à la façon de James Bond» ou para servir de sugestão a investigadores nas suas teses académicas. Nem a uns nem a outros cobrarei direitos de especulação.

FIM

Maio de 2020

Henrique Salles da Fonseca

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