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A bem da Nação

EM TARDIA DEFESA DOS GOESES

 

 

Bonjóia 2-ruínas de São Paulo, Goa.jpeg

 

 

  1. São Francisco Xavier ainda não foi substituído por uma vaca, como fingia recear o Doutor Adriano de Sousa, grande advogado do pretório de Lourenço Marques, para levantar o orgulho dos seus patrícios, mas Goa está amoxamada... É o que observa quem lá vai.  Há um debate para saber se a insidiosa perda dos valores ocidentais é culpa dos que já estão fora e dos que vão para fora ou dos que ficam lá em Goa. 

 

 

  1. Na realidade dos factos históricos, a culpa está muito bem definida e identificada. Não é dos Indo-portugueses, nem dos Goeses. 

 

Tudo foi combinado fora de Goa, pelo PCP, que começou em Moscovo e acabou por conseguir fazer programar tudo em Nova Delhi e em Goa.  Depois foi tudo executado, dentro de Goa e de Portugal, pelos marxistas-leninistas infiltrados, pelo PCP, no exército português, o marechal Francisco da Costa Gomes, cognominado Rolha durante o PREC, a instalar como governador o humanista general Vassalo e Silva, que não era vassalo de Portugal e só queria salvar a pele bem curtida nas praias de Goa, em desmentido do juramento que tinha feito na sua carta militar. 

 

O Professor Doutor Oliveira Salazar nem teve tempo para mudar de ideias e fazer um referendo, que os goeses não teriam hesitado em votar em massa para ficarem portugueses. 

 

Se houve tiros contra o exército e marinha do invasor, foram disparados por uns poucos goeses, entre eles o comandante duma instituição militar, que devia ser libertada por um grupo de blindados, pelo subchefe Aniceto do Rosário, que morreu, no seu posto defendendo Dadrá, pelos descendentes dos escravos de armas caboverdeanos de Diu, que só içaram uma bandeira branca depois de esgotadas as munições contra a marinha de guerra da União Indiana, e pela marinha portuguesa, nomeadamente a lancha Vega comandada pelo segundo-tenente Oliveira e Carmo fardado de branco e morto em combate, em Diu, pelo aviso Afonso de Albuquerque, com o seu comandante gravemente ferido, em Mormugão.  Também em Damão houve tiros.  Em Damão, nas festividades do dia feriado pela libertação ou invasão, antigos oficiais do exército português também vão pôr coroas pelos caídos, em Dadrá e Nagar Aveli.  Para quem não acreditar, há um filme, na Internet. 

 

Segundo os invasores, a conquista de Goa (ou de Goa com Damão e Diu) durou 36 horas e, em Goa, as tropas portuguesas foram recuando até Vasco da Gama, na península de Mormugão, onde o governador humanista trazido para Goa pelo marechal Rolha, que dali levou tropas e armamentos, por serem necessários em Angola, solicitou o cessar fogo, sem condições, aos Excelentíssimos Senhores seus Inimigos e Amigos, depois da rendição incondicional do Comandante Chefe das Forças Armadas do Estado Português da Índia, ele próprio e a mesma pessoa (Valentino Viegas, 2012, Goa, o preço da identidade, Lisboa, Livros Horizonte, Lda, 165 p.).  Antes disso o general Vassalo e Silva, para afastar qualquer dúvida sobre o cabal cumprimento da sua missão, tinha já combinado com o seu Inimigo e Amigo, general Chaudhury, comandante do exército invasor, como devia fazer, para entregar Goa à União Indiana.  Quem ficou irritado com essa formalização, foi Krishna Menon, ministro dos negócios estrangeiros, que desejava confinar a aparatosa invasão a um problema interno da União Indiana e daí lavar as suas mãos, mas, agora o seu exército tinha recebido e deferido um requerimento a pedir rendição de um exército, que para ele era estrangeiro (Mariana Manuel Stocker, 2011, Xeque-Mate a Goa, O Princípio do Fim do Império Português, Alfragide, TextoEditora Lda., 440 p.).  

 

Quanto aos jornalistas e outras personalidades, que tinham estado presentes, o jornalista brasileiro Leopoldo de Melo declarou em Caráchi, que a rendição das forças portuguesas lhe parecera “vergonhosa” e que estas forças “actuavam como se estivessem privadas de comando, deslocando-se continuamente sem aparente finalidade, acabando por retirar-se em direcção a Vasco da Gama”.  O Patriarca José Alvernaz desmentiu ter dado qualquer conselho de rendição e afirmou, que desde o primeiro dia da invasão, quando se encontrou com ele, o governador já tinha decidido que os portugueses se deviam render.  Os jornalistas americanos regressaram de Goa frustrados.  Só poucas pontes tinham sido cortadas à última da hora.  Não tinha havido praticamente combates e os tiros tinham escasseado.  Do lado português vinte mortos, entre eles o telegrafista Piedade do aviso Afonso de Albuquerque e o segundo-tenente Oliveira e Carmo da lancha Vega, do lado indiano vinte e uma baixas (Mariana Manuel Stocker, 2011), entre elas o oficial indiano ingénuo que comandava os tanques que foram atacar uma instituição militar de Goa guarnecida por goeses.  Saiu a peito descoberto para negociar a libertação com o oficial goês, que comandava esse quartel ou forte, o qual, sem hesitar, o abateu (Valentino Viegas, 2010, A morte do Herói Português, da guerra em Angola à invasão de Goa, um testemunho, Lisboa, Livros Horizonte, Lda.).   Este infeliz oficial sabia que a guarnição era goesa e julgava que os goeses se queriam libertar de Portugal, como a Índia se tinha libertado do imperialismo britânico.  Como oficial superior, estava no segredo dos deuses e sabia que o general Vassalo e Silva obedecia ao PCP e ao KGB, não obedecia às ordens de Salazar.  Não tinha reparado, que o general tinha deixado de comandar, abandonando as suas tropas à sua sorte, por motivos de grande humanismo marxista-leninista.  Também não sabia, que, quando Ghandi dirigia o partido do Congresso, uns goeses líricos lhe tinham escrito de Bombaím, pedindo para trabalharem pela libertação com o Congresso Indiano, porque tinham em Goa a mesma luta e a mesma situação de colonizados.  Ghandi tinha iniciado a sua carreira de advogado, em Durban, onde lutou para ser considerado sujeito do Reino Unido e seu Commonwealth e deixar de ser discriminado pela lei do apartheid da África do Sul, votada pelo parlamento britânico, no início do século XX.  Ghandi respondeu aos líricos goeses de Bombaím, que estavam muito enganados e que, em Goa, só o governador era português e que tudo o resto, incluindo o poder judiciário estava nas mãos dos goeses, situação muito diferente daquela, que vigorava na Índia Inglesa, onde os indianos até estavam impedidos de frequentar lugares públicos reservados aos Ingleses.

 

O aviso Afonso de Albuquerque afrontou sozinho três fragatas indianas acompanhadas por um cruzador e um porta-aviões, na baía de Mormugão:  “… muitos foram aqueles que observaram com os seus próprios olhos, assistindo à distância à batalha naval travada…  Com extraordinária coragem, grande determinação e invulgar valentia, os marinheiros portugueses enfrentaram as modernas fragatas inimigas (…), sabendo de antemão que a qualquer momento elas podiam ser apoiadas pelo cruzador (…) e pelo porta-avões (…).  Apesar de o comandante do navio, o capitão-de-mar-e-guerra António da Cunha Aragão, ter sido dos primeiros a ser alvo do fogo inimigo e estar gravemente ferido, pois logo na fase inicial do ataque fora atingido por um estilhaço junto ao coração, o aviso Afonso de Albuquerque deu grande luta e conseguiu acertar e danificar fragatas indianas.  Combateu enquanto pôde, enfrentando o inimigo numa peleja desigual.  Com as máquinas destruídas, impossibilitado de continuar a travar a batalha que vinha travando, cerca das treze horas do dia 18 (de Dezembro de 1961) o aviso Afonso de Albuquerque foi encalhado pela tripulação não muito longe do cais de D. Paula” (Valentino Viegas, 2012), onde, já depois de encalhado, continuou a defender o acesso ao canal do porto de Mormugão, disparando com a única peça de artilharia que lhe restava (Mariana Manuel Stocker, 2011).

 

O general Vassalo e Silva era engenheiro militar, tal como o seu ilustre colega Vasco dos Santos Gonçalves.  Foi trazido para Goa pelo ilustre marechal Francisco da Costa Gomes por duas razões:  era um tubarão do PCP e tinha sido aceite pelo Ministro da Guerra Salazar, só por ser engenheiro militar.  Estava incumbido de preparar Goa para a invasão, criando o maior número possível de obstáculos à progressão do exército invasor.  Teve tempo para cumprir a sua missão, mas não fez nada ou praticamente nada, só ficou documentada a falta de comando, ordens e instruções às tropas portuguesas e a sua fidelidade ao PCP e traição a Portugal.  Com o pouco ou nada que fez na sua especialidade de engenharia militar, sobrou-lhe tempo para praia e festas (J., 2007, O último Imperador de Portugal, Volume I, Uma história verídica, Lisboa, Enke Editions, 400 p.), no dia anterior ao da invasão estava numa festa de casamento.  

 

A estratégia de Salazar, no Estado da Índia, consistia em atrasar o inimigo, ganhando tempo, para poder mobilizar os aliados de Portugal e fazer queixas nos areópagos internacionais.  Porque, no subcontinente indiano, por exemplo, Portugal tinha um poderoso aliado e muitos pequenos, mas activos aliados.  Ainda hoje, no Paquistão, os goeses, que não quiseram submeter-se aos libertadores, ocupam postos de relevo, como funcionários do estado.  Ainda hoje, emigrantes de nações da União Indiana emigram para a Europa, via Portugal, em vez de irem para o Reino Unido.  A fronteira do Caxemira não é a única fronteira do Paquistão disputada com a Índia.  A fronteira do Gujarate, ao norte de Diu, também é disputada.  Com a guerra relâmpago do exército indiano retardada, o Paquistão tinha uma oportunidade única para avançar, no Gujerate e Diu podia passar para o outro lado da fronteira. 

 

Segundo Franco Nogueira, o pandita J. Nehru teria ficado arrependido por ter usado a força em Goa, Damão e Diu.  A verdade é que ele só respondeu afirmativamente à pressão de militares do seu exército, porque tinha garantias diplomáticas secretas, duma das duas grandes potências, de que o PCP controlava a situação em Goa e que tudo se passaria rapidamente. Em Setembro de 1961 Nehru tinha visitado a URSS e em Dezembro, antes da invasão, foi a vez de Nikita S. Khruchtcov visitar a União Indiana.  Na primeira edição incompleta do seu livro, Maria Manuel Stocker (2011) prometeu esclarecer definitivamente este ponto pela “análise dos arquivos soviéticos”.  Parece que já deviam estar disponíveis e até temos, em Portugal, um grande e bom especialista, que já esclareceu vários mistérios das histórias recentes de Moçambique e Angola, graças às fontes soviéticas.   

 

 

  1. Numa carta de Goa a um dos seus amigos, em Lisboa, Luís de Camões (Carta II, 1948, Obras Completas com prefácio e notas do Prof. Hernâni Cidade, Volume III, Autos e Cartas, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 379 p.), já, há muito tempo, tinha pedido meninas feias lisboetas, mas corajosas para fazerem uma viagem a enjoar durante seis meses. Segundo Camões as venerandas meninas reinóis de Goa tinham ultrapassado a idade da reforma. A sua experiência pessoal também lhe tinha mostrado que as meninas que a terra dava, as meninas goesas estavam amoxamadas. Para ele, ninguém havia como as meninas do reino para chiarem, na fervura, como “pucarinho novo”. Parece que, só agora, o nosso príncipe dos poetas e dos amores infelizes e tristes foi ouvido pelas meninas russas bonitas, segundo os padrões do Renascimento e do “povo vão” (Endechas à Bárbara Escrava, 1948, Volume I):  pele branca como a neve sem melanina, olhos azuis de azurite ou verdes de malaquite, cabelos de ouro.

 

 

  1. Goa tornou-se um estado da União Indiana separado de Damão e Diu, território da União Indiana.  Assim, em Damão e Diu, os descendentes de caboverdeanos, que não se deixam amoxamar, como provaram sobejamente, em Timor Leste, ficaram mais isolados.

 

 

  1. Para ser completo, este sítio sobre Goa, a bem da Nação, só precisava ainda de um relato ou entrevista a um tripulante do navio escola Sagres sobre a festa de despedida, que lhe foi feita, uma surpresa dos goeses, a 14 de Novembro de 2010. Essa festa parece ter ultrapassado de longe a cerimoniosa recepção dos canecos do século XIX a um príncipe de Portugal, o único da história, que foi visitar os seus fidelíssimos vassalos do vice reino. Para essas grandes festas, não faltaram recursos, em Goa, tolerância de ponto, canecos (= chapéus altos) e fraques para todos os funcionários sem distinção, no século XIX, barcos e motas, bandeiras das quinas verdes e encarnadas, música e vinho espumante para todos, juventude e trabalhadores, assim como liberdade de palavra para os auto-proclamados combatentes da liberdade, no início do século XXI.  

 

 

Moçambique, 30.11.2016

 

 Jose Carlos Horta.jpg

José Carlos Mucangana

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