DETERGÊNCIAS
ou
O NOSSO CAVALO DE TRÓIA
Todos sabemos como as condições do trabalho se pareciam com a escravatura no dealbar da revolução industrial e todos sabemos também como foi árdua a caminhada até ao formidável nível médio de conforto a que chegámos na Europa Ocidental a partir dos finais da II Guerra Mundial.
A penosa caminhada que nos trouxe da servidão inglória ao bem-estar foi semeada por protestos, negociações, ameaças e cedências nem sempre pacíficas mas globalmente proveitosas para o bem comum em regime de liberdade, igualdade e fraternidade - «tout va bien quando fini bien».
De um modo genérico, os confrontos ocorreram entre um «establishment» burguês, conservador, liberal e de inspiração cristã e uma «frente popular» vendedora do serviço laboral para alimentar a prole, reivindicativa por instigação de manipuladores anti-burgueses, anti-liberais, anti-cristãos, em suma, anti-Europa: o mando do «tovarishtsh» («camarada» em russo).
«Trabalhado» pelas «manitas de plata» de pragmáticos como Stalin e Lenin, os teóricos da revolução Marx e Engels obrigaram-nos (aos burgueses de inspiração cristã) a pensar e a defendermo-nos. Assim nasceram o desenvolvimento económico, o bem-estar global e a NATO para defesa contra o imperialismo russófilo de génese marxista.
À luta de classes marxista, nós contrapusemos a concertação social; à ditadura do proletariado respondemos com a democracia pluripartidária; à revolução constante contrapomos o Estado de Direito; o marxismo proíbe as religiões e nós temos liberdade religiosa; à diabolização do lucro respondemos com incentivo à poupança; a rigidez monolítica nós contrapomos estruturas que se adaptam às novas ocorrências; os regimes ocidentais adaptam-se enquanto os regimes rígidos colapsam ao primeiro safanão.
Com tantas diferenças, colhe perguntar como se justificam esses encontros que por aí se realizam intitulados de «Diálogos entre o cristianismo e o marxismo». Creio que a resposta passa pela lavagem do marxismo aos olhos inocentes ocidentais.
O «politicamente correcto» - a transigência relativamente aos intransigentes – é o «cavalo de Tróia» que nos pode derrubar.
Ainda vamos ouvir falar do «diálogo» inter-religioso com o Islão… E a pergunta será sobre quem quererá enganar quem.
E não é necessário sermos violentos com ninguém, basta «não darmos cavalaria».
Março de 2024
Henrique Salles da Fonseca