EFEMÉRIDE
Estava eu há 50 anos a estagiar na EPAM - Escola Prática de Administração Militar, na Alameda das Linhas de Torres, em Lisboa, quando foi anunciada a morte do Doutor Salazar. Ocorrência esperada a qualquer momento face à situação clínica do enfermo, nada aconteceu. Ao contrário do que os seus adeptos ferrenhos queriam, o povo não se manifestou em rios de lágrimas nem se ouviram coros de prantos; ao contrário do que os comunistas queriam, não houve manifestações de júbilo nem as valetas das ruas se encheram de sangue. Nada, absolutamente nada. E nós, os crentes na Primavera Marcelista, imaginámos que o Professor Marcelo Caetano se sentiria então mais à vontade para conduzir Portugal no caminho suave para a democracia e com as colónias a caminho da autonomia integrada num processo pacífico.
Por todas estas razões, posso hoje afirmar que há 50 anos nada aconteceu: nem para salazaristas, nem para comunistas, nem para marcelistas.
Mas se a ocorrência não foi charneira histórica, ela pode hoje servir para lembrar algumas realidades sobre o Doutor Salazar:
- Ao contrário da propaganda comunista, o Doutor Salazar não era fascista. Pelo contrário, instituiu um Estado de Direito – um Direito autocrático, sem dúvida, mas Direito publicamente conhecido de todos os cidadãos, aplicável a todos, sem excepção;
- Herdeiro de um Estado falido, manteve sempre a política do equilíbrio das Finanças Públicas e condicionou todo o desenvolvimento – económico e social – a esse equilíbrio;
- Autocrata, nunca fingiu ser democrata, muniu-se dos instrumentos de segurança nacional (não propriamente de segurança pessoal) que lhe pareceram convenientes. Refiro-me à PIDE já que tanto a Legião Portuguesa como a Brigada Naval não passavam de puros bluffs a que ele próprio, depois da guerra civil espanhola, deixou de dar qualquer importância – serviam para que uns quantos «maduros» se fardassem a fingir que eram uns durões. A Mocidade Portuguesa era uma brincadeira de crianças;
- Em política externa, o Doutor Salazar foi exímio e nas épocas mais conturbadas assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros para gerir o processo sem intermediários. E a URSS não tomou a Península Ibérica como Stalin tinha imaginado.
E assim foi o que há 50 anos quase passou despercebido. Mas que hoje refiro como um estadista que nos salvou do nazismo, do fascismo e do comunismo.
E mais não digo porque acho que basta e porque não sei muito mais que dizer.
Julho de 2020
Henrique Salles da Fonseca