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A bem da Nação

EDUCANDO...

 

Thomas Mann.jpg

 

Quando em 1938 Thomas Mann chegou aos Estados Unidos, fugindo ao nazismo, deu uma conferência de imprensa em que disse: - Onde eu estiver, está a cultura alemã.

 

Logo houve quem atribuísse esta frase a uma grande dose de arrogância e a simpatia com que foi recebido ficou claramente moldada pela impressão assim causada. Foi necessário esperar alguns anos para que essa frase fosse explicada pelo seu irmão mais velho, Henrique, quando nas suas memórias se refere ao episódio e o explica com a frase de Fausto: «Aquilo que de teus pais herdaste, merece-o para que o possuas».

 

Não fora, pois, arrogância mas sim um profundo sentido de responsabilidade que levara o escritor a identificar-se daquele modo com a sua própria cultura. O conhecimento do que outros fizeram antes de si já levara Hölderlin (1770 - 1843), o poeta atacado de mansa loucura, a afirmar que «Somos originais porque não sabemos nada».

 

Em 1518, Ulrich von Hutten (1488-1523), companheiro de Lutero, escrevia a um amigo que, embora fosse de origem nobre, não desejava sê-lo sem o merecer: «A nobreza de nascimento é puramente acidental e, por conseguinte, insignificante para mim. Procuro noutro local as fontes da nobreza e bebo dessa nascente. A verdadeira nobreza é a do espírito por via das artes, das humanidades e da filosofia que permitem à Humanidade a descoberta e reivindicação da sua forma mais elevada de dignidade, aquela que faz distinguir a pessoa daquilo que também é: um animal

 

Ou seja, a nobreza conquista-se, não se adquire por via hereditária. Afinal, era isso que Mann significava quando chegou à América.

 

O que é, então, a essência da cultura? É o conjunto das obras intemporais, as perenes, as que não passam de moda, as grandes obras humanistas, as que desenvolvem o pensamento especulativo. É a conjugação lógica de axiomas para a construção de novos silogismos e para a definição de doutrinas inovadoras. Eis o âmago da cultura, de uma qualquer cultura: o raciocínio especulativo, a independência relativamente à letra, a interpretação dessa mesma letra, a busca do significado. Quanto mais uma cultura se identificar com os valores humanistas e os promover, mais elevada é essa cultura.

 

E o que é ser culto? Será saber muitas coisas? Não, isso é próprio de uma enciclopédia. O conhecimento dos factos não define a cultura mas apenas a dimensão do conhecimento. O culto é aquele que está aberto à nova interpretação, o que busca o significado.

 

E o que é ser educador? É convidar os outros para o significado.

 

 

Henrique Salles da Fonseca, Budapeste.jpg

Henrique Salles da Fonseca

(Budapeste)

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