EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Reza a história que Almeida Garrett caminhava pela coxia da Câmara dos Deputados para ocupar o seu lugar quando ouviu o orador no uso da palavra dizer. «Como muita gente sabe,…». O poeta-dramaturgo ignorava que assunto estava a ser tratado; isso não o impediu contudo de interpelar o orador: «Muita gente, quem?» O político na tribuna flexibilizou o discurso e retomou: «Como alguns sabem,…». Garrett fez de novo soar a sua voz tonitruante: "Alguns, quem ?». Perante a insistência, o orador concedeu: «Como eu sei, …»
Pergunta semelhante gostaria eu da fazer ao jornalista Vasco Pulido Valente. Afirma ele (PUBLICO, contra-capa, 15 Mar 2015), cito, «…à velhíssima crença de que a educação - e a formação - contribuem para o crescimento económico: uma tese desacreditada desde o princípio do século XX". Desacreditada por quem? Bastaria ao avisado comentarista ter lido a abalizada notícia da Macropedia Britannica, (vol 17, pgs. 878 a 907) para verificar que a questão do crescimento só começou a ser objecto de estudo e teorização nos anos 30 do dito século XX (Keynes e Schumpeter à frente) e a preocupação com o desenvolvimento, por seu turno, veio na esteira da descolonização processada no pós II Guerra Mundial. Nenhum dos teóricos ali citados se pronunciou pela irrelevância do factor educação-formação. Pelo contrário, o investimento no capital humano é considerado a «chave do progresso» (pg.880) e «factor crucial» (pg 887). Nem poderia deixar de ser uma vez que se constata que a contribuição do factor capital para o PIB seria da ordem dos 25%, ficando os restantes 75% a cargo do elemento humano. As estatísticas apresentadas a páginas 894 e 895 da referida entrada relativas ao crescimento do produto por pessoa empregada mostram claramente como a economia varia em função da educação.
Como experiência pessoal posso registar que, num processo em que intervim, uma multinacional líder mundial desistiu de instalar uma fábrica de computadores em Portugal por várias razões, a principal das quais por ter constatado aqui não encontraria número suficiente de engenheiros.
Temos de reconhecer que Vasco Pulido Valente nem sempre acerta. Tem dias, como toda a gente.
Luís Soares de Oliveira