«... E VÓS, TÁGIDES MINHAS...» - 7
ou
O MUNDO VISTO A PARTIR DE LISBOA
Como se a época por que passamos puxasse ao humor, recordo a história daquele estrangeiro que, na época de Jânio Quadros, se lastimava de o Brasil estar a aproximar-se perigosamente de um buraco ao que um brasileiro descontraído lhe respondeu que não havia perigo pois o Brasil é muito grande e não cabe no buraco.
Recordo também aquela reunião de militares que preparavam um golpe de Estado com um rigoroso plano de operações na então capital federal, o Rio de Janeiro, em que no final da grande exposição pelos Oficiais do Estado Maior, um soldado fazer a pergunta «e chover?»
E se chover, vão todos para baixo do alpendre e pedem à Senhora da Aparecida que não deixe o Brasil caber no buraco.
E quando o João da Política apregoava que nos bolsos daquelas suas calças nunca entrara dinheiro ilegal, logo teve que ouvir a plateia cantar «Joãozinho tem calça nova».
Naqueles tempos já algo distantes em que o carioca da cidade podia subir ao morro e regressar são e salvo, um jornalista pediu para entrar num barraco onde estava um fulano a dedilhar um violão:
- Bom dia| Posso entrar?
-Pois não, “mermão”, entra.
- Então você mora aqui sozinho?
- Moro com meu irmão.
- E onde está ele?
- Está lá na cidade a trabalhar.
- E você também trabalha?
- Não, eu vivo.
* * * *
Assim se compreende o Brasil terceiro-mundista que domina a política do país e afoga o Brasil que mereceria lugar de destaque no primeiro mundo.
Outubro de 2022
Henrique Salles da Fonseca