E NÓS POR CÁ ?
Nota prévia – O presente texto é sequente ao publicado em 14 de Julho no qual ensaiei uma tipificação do francês actual.
* * * Mélanchon acertou na «mouche» quando intitulou o seu Partido «A França Insubmissa». A sorte de França foi a de nem todos os insubmissos franceses terem seguido Mélanchon.
E nós por cá?
Ora bem, também nós somos fruto da História, sobretudo da nossa, pois a maior parte dos portugueses só começou a ouvir sobre «o lá fora» quando, basbaques, lhes puseram uma televisão à frente do nariz. Não ia longe o tempo de «uma sardinha para quatro», da proibição do «pé descalço» e da mendicidade nas cidades. Como se essas proibições acabassem com a miséria…
Aquela era uma época difícil para muita gente em que muitos tinham “uma sardinha para quatro”, não havia Segurança Social universal e a saúde era para quem a podia pagar. E a «enxada para a vida», a instrução, era rudimentar ou menos que isso. Abundava a ignorância e havia mesmo quem dissesse que «a ignorância é a felicidade do povo». Diziam «boutades» destas, mas iam à Missa no Domingo seguinte.
Passaram, entretanto, 60 ou 70 anos e eis que o Census 21 nos revela a persistência do analfabetismo nuns medonhos 3,08% da população (308 mil portugueses com mais de 14 anos de idade não sabiam ler, escrever nem contar). A maior parte da população em idade activa não completara o ensino obrigatória e apenas uma minoria da população com mais de 25 anos tinha formação pós-secundária. Tudo resultando num baixíssimo nível médio cultural.
Ou seja, o português típico, hoje, é inculto e, espicaçado pelas políticas de incentivo ao consumo, recorre desenfreadamente ao «xico-espertismo» e ao crédito. Especificamente, há que assinalar três grupos:
- Os «desprezados» pelas elites desde a fundação da nacionalidade
- Os «desenrascados» que se dedicam a pouco mais do que prestar serviços, que são o grosso da coluna, mas sem acréscimo de valor tecnológico;
- Os «burros de carga» que são os que vencem toda a inércia e, ainda assim, a minoria, conseguem puxar o país para a frente.
* * *
- Num outro registo, o da ética, o «travão nacional que é o dos compadrios, dos corruptos e os delinquentes.
- Aqui fica um pretexto para meditação, a relação entre cultura e ética. A isso irei em breve.
Agosto de 2024
Henrique Salles da Fonseca