DOUTRINAS E ESTRATÉGIAS - 2
O «festival» insurrecional europeu de cariz marxista desde o leninista ao gramsciano passando por todas as variantes imagináveis, do nihilismo filosófico ao suicidário, do anarquismo romântico ao do terrorismo urbano de inspiração catalã e do da militância sindical até ao existencialismo, foi o «Maio de 68».
E a pergunta que prevalece sem resposta muito clara é: - Será que o Maio de 68 não passou de uma carnavalada quântica?
Com acerto ou sem ele, para os burgueses europeus da opção tranquila, foi um conluio de «levantados» se não mesmo de delinquentes liderados pelo agitador alemão Daniel Cohn-Bendit.
Historicamente, tudo começou com um desacordo entre o Governo então presidido por Georges Pompidou que pretendia acabar com os dormitórios mistos na Universidade de Nanterre e separá-los por sexos e os estudantes que pretendiam a confraternização. As posições extremaram-se, a Polícia evacuou a Universidade de Nanterre, os estudantes ocuparam a Sorbonne, o caldo entornou-se por completo com os comunistas a aproveitarem a deixa para decretarem uma greve geral por toda a França e o próprio General de Gaulle saiu do Eliseu refugiando-se algures. Foi necessário que as mães dos estudantes solteiros e as mulheres dos casados dissessem que bastava de revolução e que estava na hora de fazer a «soupe à l’oignon». E assim foi que se misturaram os cheiros da cebola e do suor, as barricadas desapareceram, a França voltou ao trabalho, o General voltou da tal parte incerta e o Governo acabou substituído. Ou seja, a 5ª República manteve-se, o conselho ministerial manteve a côr política, a revolução não vingou e quase se poderia dizer que – salvo eleições legislativas realizadas no mês seguinte ganhas por de Gaulle – quase nada aconteceu. Mas tudo mudou.
«Il est interdit d’interdire» e «Je ne veux pas gâcher ma vie à la gagner» - eis dois slogans-graffiti que retive e que me parece terem sido a génese do sentimento libertário e do «direito» supremo de tudo ser de direito.
O libertário esquece deliberadamente que a sua liberdade termina onde começa a liberdade do próximo e fá-lo com o intuito da destabilização social; a ditadura dos direitos superlativos tudo exige e ignora os deveres para com qualquer conceito de bem comum que condicione os seus próprios direitos absolutos.
É esta a herança perene do Maio de 68. E nós cá estamos para os aturar. Felizmente, as suas alianças estratégicas sempre trazem à superfície as incompatibilidades doutrinárias entre eles, os radicalismos e inerente incapacidade de negociação.
A nós, os da opção tranquila, a paz na busca do bem-comum mas não podemos ignorar os da «nova moda» que nos querem destruir apagando os Valores da nossa História.
Outubro de 2021
Henrique Salles da Fonseca