DOUTRINAS E ESTRATÉGIAS
AS PESSOAS
Kropotkin (1842 – 1921), «pai» do anarquismo
Lenin (1870 - 1924), «pai» do sovietismo
AS DOUTRINAS
Sovietismo – Estado omnipresente e omnipotente
Anarquismo – nihilismo do Estado
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No que se refere ao conceito de Estado, não pode haver duas doutrinas mais antagónicas. Registe-se, pois, o absurdo que consistiu na adesão de anarquistas portugueses ao PCP durante o «Estado Novo».
A única explicação que encontro para esse absurdo doutrinário tem a ver com algum pacto de estratégia visando o derrube de Salazar. Para além deste objectivo comum, tudo o mais só poderia ser discórdia. No plano da discórdia, basta referir o colectivismo comunista vs. o individualismo anarquista, o Estado policial soviético vs. o libertarianismo anarquista.
Ou seja, logo após o derrube do «Estado Novo», o putativo pacto estratégico se desfaria e, com os comunistas no poder, aos anarquistas restaria a hipótese de conseguirem passar à clandestinidade e à luta armada, serem fuzilados ou, mais benignamente, acabarem os seus dias como Kropotkin votado ao ostracismo morrendo de fome e de frio.
Contudo, a nossa História foi mais suave com os anarquistas a passarem-se para o graffittismo humorístico e com os comunistas a serem expulsos da área do poder em 25 de Novembro de 1975.
Conclusão: não há estratégia que resista à incongruência doutrinária e as coligações tendem a desfazer-se quando alcançam o poder.
Outubro de 2021
Henrique Salles da Fonseca
Nota de pé de página: Tomás da Fonseca era anarquista e morreu em 1968