DOS PREÇOS - 3
Em complemento da definição anterior de transparência mercantil, os mercados ou são transparentes ou manipulados: transparentes quando o risco se distribui equitativamente pela oferta e pela procura; manipulados por quem alija o risco.
Alija o risco quem determina o preço ludibriando o confronto da oferta e da procura condicionando a liberdade de licitação, o anonimato dos agentes e a publicidade dos próprios preços. A criação de monopólios (um só fornecedor), de monopsónios (um só comprador), de oligopólios (domínio do mercado por poucos grandes fornecedores), de oligopsónios (domínio do mercado por poucos grandes compradores), enfim, da cartelização e da combinação de estratégias (e de preços) são modos limitadores/impeditivos da concorrência que obstam à transparência e carregam o risco para uma banda em favor da outra.
Tudo isto, nos mercados à vista porque, nos mercados de futuros, acoisa» pia mais fininho. Já lá iremos…
Historicamente, em traços muito gerais, o mundo rural sempre assentou no autoabastecimento e nos intermediários para os excedentes. Grande primitivismo que os poderes políticos tentaram remediar pela agremiação da oferta nos Grémios do Estado Novo e nas cooperativas do pós-25.
E, para manter a serenidade de espírito, passo por cima dos verdadeiros atentados de «lesa Nação» que se ensaiaram na estrutura fundiária nacional com parcelamentos, emparcelamentos, nacionalizações e não sei já que outras vilanias..
Até à nossa entrada para a CEE existiam os Organismos de Coordenação Económica a quem competia dessazonalisar os preços. Com a adesão à CEE/UE, passou a vigorar a Política Agrícola Comum. Contudo, houve outra medida de política que raramente é assinalada, mas que teve um enorme impacto nos nossos mercados domésticos e ela foi da iniciativa do então Primeiro Ministro Cavaco Silva ao incentivar a entrada em Portugal das chamadas Grandes Superfícies. Teve o mérito de combater a inflação que então rondava os 30% ao permitir a concorrência externa, mas esmagou a produção nacional de cujos custos não cuidou. E assim se instalou o actual oligopsónio em que os preços são marcados fora de Portugal.
A sério…???
(continua)
Fevereiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca