DOS PREÇOS - 1
Se vivêssemos num compêndio de economia, diríamos que a inflação e a deflação correspondem a descoordenações entre o volume dos meios de pagamento em circulação numa economia e a oferta de bens e serviços nessa mesma economia, mas vivemos no mundo real e os conceitos correntes são o de que a inflação é o aumento dos preços e a deflação é o seu contrário.
A inflação moderada é incentivadora, a galopante é devastadora; nos telejornais, a deflação é sempre má. Porquê? Porque uma ligeira subida regular dos preços leva ao incentivo da actividade económica através do raciocínio «Compre agora pois amanhã será mais caro» e a deflação conduz ao travão económico pelo «Compre amanhã pois será mais barato do que hoje». A inflação galopante é má porque leva tudo de rojo e uma das causas mais típicas tem a ver com a emissão monetária «à la diable» tais como no Brasil durante a vigência do Cruzeiro, do Zimbabwe nos últimos anos do consulado de Robert Mugabe, etc.
O surto inflacionista por que ora passamos tem origem nas cotações do crude, do gás natural e dos cereais, tudo causado pela guerra na Ucrânia e pela quase coincidência temporal com o cansaço dos mercados de capitais da política dos juros negativos.
A alta das cotações das «commodities» tem a ver com a normal especulação bolsista e com a pecaminosa manipulação dos mercados através de «news» mais ou menos» fake que tanto servem as altas como as baixas. Mas, por bem ou por mal, há custos contabilísticos iniludíveis que não podem ser violados sob pena de suicídio financeiro dos agentes económicos. A compra na baixa e a venda na alta fazem os mercados mexer mas a aceleração e/ou ampliação dessas oscilações desvirtua a transparência dos mercados e justificaria a existência de instituições públicas nacionais ou internacionais que se propusessem intervir nas baixas em defesa da oferta e nas altas em defesa da procura imediata (em Bolsa) ou final (os consumidores). Os Poderes Públicos não se podem alhear do zelo pelo bem-comum.
Queixam-se os nossos governantes sucessivos de que tudo são causas externas que escapam ao controlo das políticas internas.
Será mesmo?
(continua)
Fevereiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca