DO PRINCÍPIO AO FIM
ou
DO PARÂMETRO E DA SUA FALTA
- «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.» (João 1:1–4); - «Deus está morto» (Friedrich Nietzsche in «A Gaia Ciência»);
«Porque a ultrapassagem do metafísico pelo positivo só se sustentou enquanto este último viveu da herança dos estádios anteriores (teológico e metafísico). Porém, o sucessivo afastamento e descuido em relação àquelas fontes deixou-o animicamente esvaído e eticamente desamparado»;
- «As coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más».( Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa in «PORQUÊ E PARA QUÊ – Pensar Portugal hoje»)
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Palavroso como todos os pensadores franceses, Gilles Lipowetsky escreveu até há poucos anos um conjunto de obras de grande interesse de que não extraio citações mas que sintetizo como segue:
- A laicização conduziu ao distanciamento da Moral e, daí, ao distanciamento em relação à Ética; rapidamente, os conceitos de Bem e de Mal viram a degradação; conceitos que, até então, eram absolutos, passaram a ser «interpretados» e, daí, a serem relativizados (graças, p.ex., a Marcuse); eis como o relativismo ganhou foros de doutrina fundadora do pós-modernismo.
Mas…
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… será que só há Moral de génese religiosa?
A resposta é-nos dada por um Cardeal quando nos diz que ««As coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más». Ou seja, não é necessário invocar Deus para conseguirmos, laicamente, distinguir o bem e o mal e, daí, construirmos uma Moral laica.
Daqui se conclui que a laicidade não justifica a amoralidade nem, ipso facto, a imoralidade. Esta resulta, isso sim, do império do relativismo que se preocupa em destruir esses conceitos absolutos que são o bem e o mal.
O triunfo da via relativista levará logicamente os seus seguidores ao relativismo absoluto, ao desaparecimento de todos os parâmetros, ao caos quântico, à desorientação total. Daqui resultará a queda no abismo niilista de que só poderão sair pela porta do fim do caos, a do desespero, possivelmente suicida.
Marcuse, o «apóstolo» do relativismo, não aponta a via da felicidade.
Nós, os que usamos Valores absolutos, não somos retrógrados – apenas não queremos viver no caos e porque vemos o relativismo como uma tentativa de justificação dos vícios dessa prática caótica.
Março de 2023
Henrique Salles da Fonseca