DO MEU «LOROSAE» - 3
Hoje, pouco depois do Sol despontar, a passarada calou-se de repente e eu achei estranho. Fiquei alerta a pensar que os animais têm campos auditivos diferentes dos nossos e pudessem ter ouvido ruídos telúricos anunciadores de tremores da terra. É que, aqui no litoral algarvio, houve no séc. XVII um tsunami que na zona a nascente de Tavira entrou 6 quilómetros pela terra dentro e eu, a poente da cidade, estou a muito menos dessa distância da costa.
Até que, no relvado, poisa uma pega que por ali se deixa ficar exibindo os seus belos azul quase preto e branco até concluir – digo eu – que por ali não havia láparos ou répteis que lhe servissem à goela. Qual Tupolev de Putin a dizer que vai onde lhe apetece e que não teme nada nem ninguém. E a passarada, sabendo que não há quem a defenda, encolhe-se e fecha o bico tentando passar despercebida.
Deixando-nos de parábolas, não esqueçamos que a putativa chegada de um Tupolev será seguramente saudada por lenços escarlates nas mãos dos russófilos seus amigos que optam pela suserania do Czar por cima da nossa soberania. Antes, tinham um ideal por que davam a vida; agora, caído o ideal, revelam-se apenas aquilo que sempre foram: adeptos do inimigo. Foi Camões que disse que «também entre os portugueses, traidores houve algumas vezes».
- Mais do que bradarmos pelos nossos Valores Pátrios, vale pensar na fronteira que nos separa do Tupolev e de tudo o que ele representa:
- Nós temos a liberdade como um Valor superlativo e um conceito unicitários; eles falam nas «mais amplas liberdades» significando um conceito fraccionável e um valar condicionado aos ditames do Poder;
- Nós temos a democracia como o sistema político em que todos os cidadãos são chamados a opinar livremente; eles têm a democracia como a situação alcançada pelo despojamento total dos cidadãos de todos os bens materiais nivelando por baixo uma falsa equidade;
- Nós consideramos que ao Estado cumpre servir os cidadãos; eles consideram que ao cidadão cumpre servir o Estado;
- Nós temos a vida humana como inviolável; eles têm as pessoas como instrumentos descartáveis…
A nossa Civilização assenta em raciocínios livremente concebidos numa estrutura de exploração especulativa-dedutiva-conclusiva; a deles assenta no determinismo conclusivo. Nós pensamos e agimos munidos do livre arbítrio; eles agem conforme as deliberações unânimes do Poder Central.
Mais do que os emotivos Valores Pátrios de cada Nação, esta é a fria fronteira que os adeptos do Tupolev constantemente violam na Ucrânia.
Mais do que um país, é uma Civilização que está em vias de ser desafiada de morte. Para nosso azar, a nossa.
7 de Agosto de 2022
Henrique Salles da Fonseca