DO MEU «LOROSAE» - 1
«Lorosae» significa «Sol nascente» em tétum, língua oficial, a par do português, de Timor-Leste.
Tenho uma janela por onde, no Verão, o Sol nascente entra a rodos – o meu «Lorosae».
Sempre tive o Sol nascente como a glorificação da vida e o Sol poente como a finura do infinito, a vida eterna. Tive pena que Timor deixasse de ser Lorosae e passasse a Leste, a triste memória europeia. Fica a minha janela tanto pela bela fonética - «Lorosae» - como também pelo sentido da vida.
As rolas turcas são as primeiras a acordar; seguem-se os melros a correr pela relva a debicar o que eles lá sabem; a pardalada é serôdia. Mas já lá vem o Sôr Zé Fernandes a abrir a rega temporizada e, «Bom dia» para lá e para cá, é ver a passarada a deixar-se salpicar antes de abalar para fora da minha vista.
E, por serem turcas, as rolas trouxeram-me à ideia a questão da legitimidade da nossa decisão ocidental de termos nomeado os ucranianos carne para os nossos canhões. E, para além da legitimidade, pergunto-me se podemos confiar em quem desconfia de si próprio. Dessa desconfiança fazem prova as purgas que Zelensky vem fazendo em toda a hierarquia do Estado Ucraniano. Aquela é uma Nação fracturada por sentimentos de pertença incompatíveis e por conceitos tão diversos de pragmatismo como a rejeição ou convivência com a corrupção. Quem espia quem? Será que o ladrão é o polícia ou é o contrário?
Poderemos confiar numa sociedade destroçada?
Zelensky foi eleito com base numa vigorosa campanha contra a corrupção. Os inimigos de Zelensky são três; os russos, os ucranianos russófilos e os gatunos quer estes sejam polícias ou ladrões.
Duas questões que deixo em aberto:
- Conseguirá um Estado apodrecido ganhar uma guerra?
- A que distância do alvo estava a base de descolagem do drone que há dias matou o chefe da Al Kaeda que se julgava escondido algures no Afeganistão?
Nota de rodapé – Seria um erro estrondoso tentar acabar com Putin.
3 de Agosto de 2022
Henrique Salles da Fonseca