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A bem da Nação

DO DESENVOLVIMENTO - 2

Resulta linearmente do meu texto anterior sobre este mesmo tema que tenho as pessoas como determinantes no desenvolvimento dos respecyivos países e as riquezas naturais como factor secundário. Igualmente determinante – e directamente relacionado com o desenvolvimento humano – o funcionamento da «máquina» económica.

Objectivamente, segundo me parece, o problema português está na debilidade da escolaridade, na subalternização da produção e no privilégio ao consumo.

* * *

Partindo do pressuposto de que a infância já está totalmente escolarizada (e a minoria de tradição nómada?), é importante erradicar o analfabetismo adulto  - que, só por si, consiste em real inércia ao desenvolvimento - podendo (devendo) ser realizado pelas autarquias conforme a realidade local (com eventual apoio do IEFP) e pela Igreja no âmbito da sua tradicional acção de promoção humana. 

Se, conforme nos diz o Eurostat, quase metade da população portuguesa apenas tem o ensino primário, isso significa que o problema seguinte se localiza no secundário. Aqui chegados, parece que os dois principais problemas – abandono precoce e escassez de vias profissionalizantes – já começaram a merecer a atenção que lhes era devida mas tardam os resultados com expressão significativa. É que, se assim não fosse (o atraso nos resultados), o problema identificado no final da primária ter-se-ia transferido para o final do secundário, do que não tenho ainda notícia. Talvez fosse de alguma utilidade harmonizar os esforços públicos pela integração dos cursos do IEFP nas vias profissionalizantes do secundário assim dando a este uma panóplia de hipóteses profissionalizantes que actualmente me dizem não possui e, ipso facto, reduzindo o abandono precoce.

* * *

Como se observa nas estatísticas internacionais, nomeadamente no Eurostat[i], temos relativamente poucos licenciados com cursos superiores apesar de a situação já ter sido estatisticamente muito pior. Recordando, desde o reinado de D. Dinis até à implantação da República, tivemos apenas uma única Universidade, a de Coimbra, já que as de Lisboa e Porto apenas apareceram  com a primeira República. E assim se manteve o panorama universitário em Portugal pejado de autismo corporativo, o que fez com que o «arejamento» de ideias fosse raro. Pior: a rígida hierarquia ainda hoje faz com que o mérito científico possa ficar condicionado à existência de vagas de criação meramente administrativa e submetidas a condicionantes de ordem orçamental: as Cátedras que ficam ocupadas por Catedráticos eventualmente detentores de Ciência caduca e os seus Assistentes, eventualmente distinguidos na cena internacional, a permanecerem na escura e desmoralizante fila de espera sem a merecida relevância e reconhecimento académicos. O verdadeiro mérito sente-se frustrado e zarpa para outras paragens onde rapidamente alcança os patamares que em Portugal lhe tinham sido vedados. Eis por que há quem diga que «a Universidade (pública) portuguesa está cientificamente faisandée».

Então, quando finalmente começaram a aparecer (quase como cogumelos) as Universidades não-públicas, eis que algumas se dedicaram ao facilitismo a que vulgarmente chamamos «gato por lebre» e à outorga de diplomas sem as mínimas provas curriculares. Maus exemplos que colocaram sorrisos de vingança no rosto dos corporativistas de antanho. Ou seja, o instrumento de dinamização técnico-científico-cultural-profissional que deveria ter sido o autor do «grande salto em frente» no ensino superior em Portugal ainda mais não foi do que «mais do mesmo» ou, pior «menos do mesmo», não se lhe conhecem ainda  assinaláveis performances de inovação científica e tarda a ser reconhecido como algo mais do que uma alternativa (onerosa) para quem não teve nota suficiente para entrar na Universidade pública. Ao contrário das (minhas) expectativas, a Universidade não-pública portuguesa, salvo honrosas excepções, nivelou por baixo. Mas é claro que está a tempo de «dar a volta por cima». Inch Allah!

Solução urgente, precisa-se! E, sim, há: abramos as portas a Universidades estrangeiras de cujos corpos docentes constem, pelo menos, 2 ou 3 nobelizdos nos ramos científicos a ministrar entre nós.

(continua)

Dezembro de 2020

Henrique Salles da Fonseca

 

 

 

[i] - https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Europe_2020_indicators_-_education&oldid=301033%20

 

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