DETERMINISMO OU LIBERDADE
[Na década de 30 do séc. XX] os sociólogos, democratas, livre-pensadores, partidários da liberdade individual, confirmavam com a sua ciência os valores aos quais espontaneamente aderiam. Aos seus olhos, a estrutura da civilização presente (densidade ou solidariedade orgânica) exigia de algum modo as ideias igualitárias, a autonomia das pessoas. Os juízos de valor ganhavam, mais do que perdiam em dignidade, ao tornarem-se juízos colectivos. Substituía-se com toda a confiança a sociedade de Deus. Aliás, o termo «sociedade» não deixa de ser equívoco pois ora designa os colectivos reais, ura a ideia ou o ideal destes colectivos. Na verdade, só se aplica aos agrupamentos particulares, fechados sobre si mesmos, mas menos do que as palavras «pátria» ou «nação» e recorda as rivalidades e as guerras (não se imagina facilmente uma sociedade alargada aos limites da humanidade inteira). Dissimula os conflitos que assolam todas as comunidades humanas. Permite subordinar à unidade social as classes opostas e conceber uma moral nacional que seria sociológica sem ser política.
Ora, se este conceito designar o geral parcialmente incoerente dos factos sociais, desprovido de todo o prestígio emprestado, pergunto: não parece assim que o “sociologismo” junta, com uma relatividade sem limites, a redução dos valores a uma realidade mais natural do que espiritual, submetida a um determinismo e não aberta à liberdade?
In «Memórias» - ed. Guerra & Paz, Fevereiro de 2018, pág. 122