DESCONVERSAS
Terá sido em Tete, ou ainda em Vila Cabral?, que soubemos da forma apoteótica como foram acolhidos os militares que, em missão de esclarecimento psicológico, cruzava trilhos, picadas, caminhos e povoações sob aplausos e um sem fim de risos e batucadas a coroarem os discursos de propaganda e a recepção dos panfletos com bonitas ilustrações onde se via o grande irmão branco, fardado e graduado, com a sua comitiva, a acolher e libertar o chefe irmão negro e suas gentes da perversidade dos bandoleiros da guerrilha a soldo de potências comunistas e imperialistas.
O que se veio a descobrir, por fim, é que os tradutores traduziam os apelos da pátria remota - que a esmagadora maioria dos africanos nem conhecia – em insultos declarados à presença portuguesa e sua derrota iminente. Ora, sendo estes impropérios supostamente proferidos pelo oficial que empunhava o megafone, aos olhos das populações a acção em si resultava deveras hilariante. Daí os gritos e as manifestações de regozijo com que o cortejo estava a ser recepcionado.
In «Moçambique – Para a mãe se lembrar como foi», Bertrand Editora, 1ª edição, Junho de 2014, pág. 202