DE FÉRIAS – 4
- Então, como estava hoje a praia?
- Um pouco ventosa mas a água estava ainda estupenda.
- Ainda?
- Sim, sabe que quando o vento sopra dos lados do Alberto João Jardim, a água refresca e faz as ondinhas de carapinha com bandeira verde; quando sopra do Estreito, aquece e manda vagalhões de bandeira encarnada. Não se pode ter Sol na eira e chuva no nabal.
- E, afinal, é disso que a gente vive…
- Mas poderiam viver de muito mais coisas que nos fizessem cá vir na época baixa.
- E foi por isso que falou de Balsa.
- Sim, foi precisamente por isso. É que eu estive na Turquia por 3 vezes e fiquei espantado com o que vi em Afrodisias e em Efeso. São duas cidades gregas da Antiguidade Clássica que estavam há séculos enterradas mas que se sabia estarem onde efectivamente estão. E não imagina o que é o rodopio de turistas ao longo do ano inteiro. As regiões envolventes vivem desse rodopio e as camionetas de turistas contam-se às dezenas e dezenas em cada uma delas. De princípio, o Governo Turco não tinha dinheiro para os trabalhos arqueológicos e começou por fazer um contrato de escavação, reconstrução e exploração de Afrodisias com a Universidade do Estado de Nova Iorque e em relação a Efeso com a Universidade de Viena. O dinheiro dos bilhetes financia todos os trabalhos arqueológicos e o Governo empocha os impostos que todos os turistas pagam ali e no mais que fazem no país.
- E é isso que imagina para Balsa?
- Exacto! É precisamente isso que imagino para Balsa que se sabe ser mais importante que Conimbriga e muitíssimo mais que Miróbriga.
- E a agricultura que por ali se faz?
- Ela já hoje se faz ao lado do sítio arqueológico e não bule com nada disso.
- Isso é o ideal.
- Sim, sim. E creio que o movimento turístico que o campus arqueológico haveria de gerar ao longo do ano inteiro seria importante com o desenvolvimento das escavações…
- E por que é que nada disso foi feito?
- Bem, isso eu não sei mas o meu amigo é tavirense e poderia fazer a pergunta numa reunião camarária, dessas abertas aos munícipes.
- Eu? Não pense nisso. Ainda me chateavam por meter o nariz onde acham que não sou chamado.
- Pois…
Com as despedidas impostas pela cortesia, a conversa hoje ficou por aqui e eu enchi-me de mau feitio.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca