DE FÉRIAS – 3
- Olá, boa tarde! Como está?
- Eu estou bem, obrigado mas fiquei preocupado com a sua falta de ontem. Tínhamos combinado mas…
- Peço desculpa mas deixei-me ficar no «bem bom» das salsas ondas e quando dei por mim já era tarde para vir até aqui. E como não tenho o seu contacto, não lhe pude dar uma explicação.
- Bom, se está bem, não há problema. Sabe, nós os algarvios temos menos apetite pela praia do que Vocês, os forasteiros e, portanto, deixamo-nos ficar pela cidade, a maior parte das vezes sem termos nada de especial para fazer e tinha ficado todo entusiasmado em poder ontem continuar uma conversa interessante em vez de ter de falar de futebol e coisas desse género. Mas tenho muito gosto em lhe dar o meu contacto: 9……… Fica já para qualquer situação futura. Sim, porque de certeza que as nossas conversas não vão ficar só por este Verão.
- Muito obrigado! O meu telemóvel é o 9……… Mas se vamos prolongar estas conversas, o melhor será ficarmos também com os e-mails porque eu vou-me embora dentro de dias e só volto no próximo Verão. O meu é o ……….@.......
- E o meu é o …………….@............
- Óptimo! Ficamos em contacto. E como íamos dizendo, há solução para os problemas de Tavira.
- Sim, claro que há. Umas soluções são fáceis, outras não tanto mas de qualquer modo são possíveis.
- E por onde é que acha que se deve começar?
- Por tudo ao mesmo tempo. As fáceis de resolver podem ser de efeito rápido ou lento e as menos fáceis podem ter efeitos rapidos ou mesmo rapidíssimos. Portanto, o melhor é começar tudo ao mesmo tempo e os resultados hão-de ir aparecendo…
- Então, o meu amigo imagine que é Presidente da Câmara. O que fazia para acabar com a modorra que nos dá no Inverno?
- A coisa mais fácil de fazer e talvez a de efeitos mais lentos, seria a erradicação do analfabetismo adulto em todo o Concelho e isso tanto na cidade como nas zonas rurais desde o litoral até à serra passando por tudo quanto é barrocal.
- E como é que faria isso?
- Com a ajuda das igrejas presentes no Concelho, lançaria a campanha que haveria de ser seguida pela obtenção de locais de encontro onde se haviam de ministrar as aulas em cada Freguesia. Aulas ministradas por agentes de desenvolvimento voluntários a recrutar localmente e a quem se daria uma rápida formação pedagógica seguida de apoio contínuo.
- Mas isso não será fazer arqueologia social?
- É claro que isto tem consequências muito lentas mas estou convencido de que muito consistentes. Sobretudo, no efeito positivo a nível familiar. E sabe que mais? Não vale a pena perder tempo a convencer os homens. As mulheres são muito mais progressistas nessas coisas e uma vez motivadas eles, os homens, não hão-de querer ficar para trás e acabam por aderir. E quando a economia doméstica é dirigida por uma letrada, tudo melhora na casa e no meio social.
- Mas isso não é muito caro?
- Não fiz as contas mas admito que seja possível angariar financiamento público ou mesmo não público. Mas o que mais me preocupa não é o financiamento, é a lentidão de todo o processo. E por isto mesmo é que eu acho que é a acção mais urgente.
- E as escolas que já existem?
- Essas são para as crianças, não para os adultos. Mas se os professores primários ou outros quiserem aderir, tanto melhor.
- Sim, seria bom que a Câmara financiasse tudo isso.
- A Câmara, o Instituto do Emprego e outras portas a que se haveria de bater.
- E mais quê para pôr rapidamente a economia a mexer no Inverno?
- Arrancar com a exploração da maior riqueza que existe em Tavira.
- As pescas?
- Não. Isso depende muito do mar e de gente a quem a Câmara não dá ordens.
- Então?
- Balsa!
- EH caramba! Isso é que dá mesmo pano para mangas. Mas olhe, hoje sou eu que tenho que ir andando. Continuamos amanhã?
- Sim, acho que sim. Mas já temos os contactos e podemos combinar melhor amanhã de manhã. Se houver levante…
- Então, até amanhã.
- Até amanhã.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
(em Afrodisias, Turquia)