DE COSTAS PARA A DEMOCRACIA
Era Napoleão que dizia algo como «os espíritos superiores discutem ideias, os medíocres discutem factos e os menores discutem pessoas».
Colhe assim a pergunta sobre o que por cá abordam actualmente as discussões políticas. Triste resposta… geralmente, são as pessoas que centram as discussões que conduzem à citação de factos, mas as ideias que se discutem têm quase sempre a ver com as intenções dos citados, ou seja, os ilícitos denunciados; ideias de substância, das que geram políticas, quase nunca são referidas. Então, como chegámos a uma situação em que a política é uniforme para todos os Partidos do arco democrático, nada há a discutir porque, entre eles, só mudam as pessoas, as suas pertenças e seus interesses clubistas.
E os eleitores sentem-se marginalizados na discussão sobre a partilha de interesses que não lhes respeitam, desmotivam-se, metem todos os políticos no mesmo «saco de gatos assanhados», no dia das eleições vão para a praia e dão a vitória ao maior Partido português, o da abstenção.
Todavia, há muito que discutir ou, pelo menos, recordar aos eleitores como sejam as alternativas ao que cada Partido político entende por bem-comum. E essa, sim, seria por certo uma remotivação do eleitorado.
Por exemplo, apenas na perspectiva económica, a proposta comunista em que tudo pertence ao Estado, a dos socialistas em que os sectores estratégicos são necessariamente públicos, a dos sociais democratas em que a propriedade dos meios de produção é privada mas o interesse público é ressarcido por forte tributação, a dos democrata cristãos que preferem a economia privada mas com grandes preocupações sociais.
Se os eleitores fossem confrontados com alternativas ideológicas, fariam opções conscientes, não lhes seria indiferente votar neste ou naquele, num qualquer «gato assanhado» que apenas por ali ande a defender o próprio «tacho».
Para remotivar o eleitor não o deixando continuar de costas voltadas para a democracia, é fundamental salvar o regime trazendo para a discussão pública o que cada Partido entende ser o bem-comum até porque não podemos ser obrigados a uma única política definida em Bruxelas.
Junho de 2019
Henrique Salles da Fonseca