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A bem da Nação

MEDITEMOS...

D. João II.png

 

D. João II recebe unanimemente o cognome de «Príncipe Perfeito» e tendo, no início do seu reinado, proferido a célebre frase «o meu Pai deixou-me as estradas para eu passear», desenvolveu a política de concentração do poder régio. Ficou assim confirmada a unidade nacional por contraposição à fragmentação da preferência feudal.

 

Um pouco mais de cinco séculos depois, corremos o perigo de regresso ao feudalismo fragmentário.

 

Testemunhando esse perigo, transcrevo de seguida um texto de Helena Matos com que me cruzei e que poderia subscrever na íntegra (salvo estilo literário).

 

Fevereiro de 2019

Bondi-2017.JPG

Henrique Salles da Fonseca

 

REGIONALIZAÇÃO

BOA PARA OS POLÍTICOS, PÉSSIMA PARA PORTUGAL

 

Em 2019, políticos e beneficiados do regime querem aprovar na secretaria o que o povo chumbou em referendo: a regionalização. Porquê? Porque não querem governar. Querem salvar a face e a sua vidinha.

 

Junte-se uma comissão de sábios, mais um estudo (encomendado como não pode deixar de ser ao professor Freitas do Amaral), adicione-se como pano de fundo vários líderes partidários a precisarem desesperadamente de uma fuga em frente que lhes permita aparecer diante do povo como portadores de algo de novo e temos o caldo de cultura mais que propício para o lançamento de um projecto que entretenha o povo, anime as televisões e lhes devolva protagonismo. Um desígnio, como soe dizer-se. O projecto-desígnio que aí vem para os salvar a todos chama-se regionalização.

 

Em 2019, os líderes partidários e os grandes beneficiados do regime querem aprovar na secretaria o que o povo chumbou em referendo em 1998: a regionalização. Porquê? E porquê agora? Porque não querem governar. Sabem que tal será cada vez mais difícil, para não dizer inviável, entre grevistas em auto-gestão, corporações em desatino e números que, mesmo devidamente torcidos, mostram um país cativo das cativações.

 

A presente classe política comprometeu-se com aquilo que sabe não ser possível garantir, teme uma nova crise e acredita que a regionalização pode ser em 2019 aquilo que a entrada na Europa foi nos anos 80: o desígnio que libertou a classe política portuguesa de se confrontar com o seu óbvio falhanço enquanto governante.

 

Temos pena, mas desta vez não vai haver desígnio. Os políticos portugueses se querem tratar da sua vida façam-se a ela. Mas para salvarem a sua face não nos criem problemas que não temos.

 

Os portugueses pagam e querem hospitais que funcionem, comboios que não percam os motores, escolas que ensinem, uma Protecção Civil que de facto os proteja e umas Forças Armadas que não os envergonhem. Exigem, suplicam e solicitam uma justiça que funcione. Rezam para que as estradas não se esboroem. O que não têm pedido é a regionalização.

 

Não o fizeram porque o instinto de sobrevivência de um pequeno país que conseguiu construir um Estado e definir a fronteira mais antiga da Europa não permitiu que se soltasse a caixa de Pandora das regiões. A isto junta-se a clara consciência popular de que a regionalização vai apenas acentuar os muitos defeitos do Estado sem trazer outra mudança além da multiplicação dos edifícios construídos e alugados para o efeito, dos gabinetes onde pontuarão os jovens de todas as famílias César que cada região fará florescer, sem esquecermos a crescente frota de carros obviamente eléctricos, as senhas de presença, os subsídios de alojamento para quem não vive na região, a invenção de mil e um artifícios legais para favorecer cada região em detrimento das outras, sendo que “as outras” também tratarão de multiplicar os respectivos artifícios para proteger “os seus” (veja-se o delírio das discussões orçamentais em Espanha)… E, claro, os contribuintes a pagar os custos de tudo isto, a sofrer a crescente burocracia e a consequente diluição das responsabilidades de cada vez que os relatórios, os formulários e os inquéritos passarem de um nível de decisão para o outro.

 

Naturalmente os sábios querem que desta vez a discussão seja feita nos seus devidos termos. Ou seja, nos termos por eles controlados e em que no final a regionalização será uma espécie de facto consumado a que só os ignorantes se opõem.

 

Mas por mais que isso enfastie os sábios, os autores dos estudos, o centrão e as suas margens, os boys que anseiam por novas comissões, sub-comissões, unidades de missão, observatórios… a regionalização não vai ser aprovada na secretaria. Pois tal como o moleiro acreditava que ainda havia juízes em Berlim, há quem acredite – e eu acredito – que ainda há portugueses em Portugal.

Helena Matos.png

Helena Matos

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