«DAS TURBAS, CLANGOR SEM FIM»
O chafurdo e o escarafuncho a que os órgãos da comunicação social se dedicam com afinco nas lamas dejectadas e nas feridas sociais tem como objectivo evidente a denúncia de ocorrências pecaminosas, mas visa – também claramente – instigar as turbas contra as autoridades e as elites que apresenta como venais e incompetentes, tipificações estas apresentadas isolada ou cumulativamente. Pena é que tanto autoridades como elites se ponham tanto a jeito.
Este «martelar» constante é necessário como denúncia de situações que não podem ser escondidas, é algo que só existe em democracia, ou seja, onde há liberdade de informação e onde a desinformação é punível, mas…
- …resulta da busca do sensacionalismo;
- …explora a morbidez sanguinária que se compraz com o castigo no pelourinho;
- …incita a inveja contra quem se sentiu tentado pela sorte sem escrúpulos;
- …desperta os ânimos revolucionários das bases sociais…
…voluntarismo virtuoso?
Não creio. Digo que se trata de um movimento de génese virtuosa que se transformou num instrumento de supremacia popular em relação às Autoridades de toda a espécie fazendo da desacreditação de toda a autoridade a missão que se auto atribuiu.
E se as denúncias dos abusos públicos e privados são um bom complemento (ou suplemento?) da actividade policial merecem aplauso, colhe perguntarmo-nos da legitimidade do incendeio do clangor das turbas quando se trata de contestar medidas de política democraticamente implementadas. Isto, porque temos uma «ágora» onde se discutem os temas de política, ou seja, a Assembleia da República, órgão supremo da representatividade democrática. A comunicação social não tem legitimidade democrática para incentivar acções de rua. Noticiar não significa opinar com intuitos de mobilização das turbas. Fazendo-o, deixam transparecer intuitos lobistas, manipuladores.
Acções de rua – vg professores em Portugal e incendiários em França – despertam expressões escarninhas em Stalin e em Hitler lá nas tumbas em que se encontrem.
Democracia implica liberdade; liberdade implica responsabilidade; libertarianismo é destruidor da autoridade democrática e do respectivo conceito de liberdade; libertarianismo é democraticamente criticável; em democracia, o clangor das turbas é um absurdo.
APELO CONCLUSIVO
Chafurdem, mas não escarafunchem.
Março de 2023
Henrique Salles da Fonseca