DAS FÉRIAS 21
Durante as restrições impostas pela pandemia, a poupança das famílias aumentou na medida da redução do consumo.
Com a massificação da vacinação, iniciado o desconfinamento, a «marmita de Papin» foi sendo aberta e o povo deu largas à euforia gastando a rodos o que forçadamente poupara. No Algarve, a segunda quinzena de Agosto terá sido quase suficiente para compensar os prejuízos provocados pela pandemia.
Dois empresários com quem (separadamente) conversei, me disseram que tinham sido atempada e fortemente apoiados pelo Estado. Conclui que a Administração Pública local actuou prontamente (ajuda atempada) e que aquelas empresas não funcionam na economia paralela (fortes apoios). Conversas ligeiras, de férias, não fiz perguntas mas fiquei a saber que o futuro ditará o modo de liquidação dos ditos apoios. Haja negócio e tudo se resolverá…
Aumentou a dívida pública? Sim, sem dúvida mas em tempo de guerra não se limpam armas. Fez-se o que tinha de ser feito e muito mal seria se não tivesse sido feito. Só que, agora, controlada a situação pandémica e despromovida esta a endemia, é chegada a altura de olharmos para os problemas que fomos obrigados a criar. E o problema consiste em sabermos o que fazer com tanta «moeda falsa» lançada nos circuitos económicos comatosos para que não passassem a moribundos.
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De um modo geral, as ajudas públicas revestem as formas de empréstimos (reembolsáveis, por definição) e de subsídios (a fundo perdido, por definição) e eu temo a pressão inflacionista que por aí apareça em resultado deste aumento excepcional de meios de pagamento na economia sem que deles decorra aumento da produção uma vez que eram destinados a servir a sobrevivência das pessoas. Ou seja, manutenção dos níveis de consumo com significativa quebra da produção. E se tomarmos em conta que…
- … temos uma economia relativamente pouco produtiva,
- … temos um regime de livre comércio externo,
- … temos mercados mais opacos do que transparentes (oligopsónios),
- … os preços se formam «à la diable», sem lógica,
- … temos um poder político que privilegia o consumo como motor do desenvolvimento,
… então, temos o «caldinho» ideal para um significativo aumento dos preços, um agravamento da já deficitária balança comercial, manutenção do sentido político avesso ao reequilíbrio das contas públicas, tudo isto num cenário de marcados de capitais passando dos juros negativos para a perspectiva da remuneração positiva nos inícios de 2022. E, então, a pergunta é: - Como vamos servir a dívida - desta e das crises que a antecederam - se já não há ricos que a paguem?
Passadas que foram em euforia as férias de 21, acautelemo-nos com as de 22 por causa das razões antes apontadas e não vá também a bazuca disparar às avessas vertendo bom dinheiro sobre algum excesso de projectos públicos de rentabilidade insuficiente ou quiçá deficiente (os tristemente célebres elefantes brancos).
E se do hemiciclo beneditino não me resta grande esperança, cuido-me invocando a protecção divina para que alguma da restante sabedoria humana não nos encaminhe para novo grande buraco: Valha-nos São Miguel, o Arcanjo, protector de Portugal!