DA POLÍTICA, HOJE - 5
Hoje, refiro-me às críticas que por aí andam a Guterres por não actuar mais na crise provocada pela agressão russa à Ucrânia.
Reconheço que as intervenções orais de Guterres pecam por tibieza tímbrica no que é largamente ultrapassado pela voz cavernosa de Labrov. Mas interessa sobretudo analisar o conteúdo discursos e não tanto (ou mesmo nada) às performances tímbricas. E do conteúdo das intervenções de Guterres não transparece tibieza.
Os críticos querem que a ONU seja mais activa na resolução da crise em referência. Creio que querem que Guterres participe nas negociações de paz e devem também querer que a ONU envie uma Força de Interposição nos vários campos de batalha.
Então, tem sido assim:
- Guterres não é dono da ONU e tem que respeitar as decisões dos respectivos órgãos deliberativos – trata-se de uma norma inultrapassável;
- A Assembleia Geral aprovou a condenação da Rússia e o Conselho dos Direitos Humanos expulsou a Rússia – o que se traduz numa grande humilhação para o regime de Putin;
- Assumindo uma clara crítica à um dos beligerantes (o agressor) e assumindo um claro apoio à salvaguarda das soberanias nacionais, a ONU não pretendeu ser neutral nesta crise – assumindo a posição de juiz e assim perdendo a condição essencial de neutralidade para todo o intermediário em qualquer conflito, não se deve imiscuir nas conversações de paz…
… «et pour cause» também não faria qualquer sentido enviar uma Força de Interposição que, logicamente teria de cumprir o mandato inerente à posição global de oposição ao agressor e defesa do agredido – e não é por certo isto que os críticos de Guterres pretendem.
Se, por absurdo, as críticas vingassem, isso seria a reversão da condenação da Rússia, o seu regresso à Comissão dos Direitos Humanos, o reconhecimento do direito de um país violar a Soberania Nacional de outro e a legalização do envenenamento dos opositores de qualquer Governo.
Esperemos por melhores dias com críticos mais leais e menos matreiros!
No extremo ferroviário oposto a Vladivostok, 22 de Abril de 2022
Henrique Salles da Fonseca