DA ÉTICA DA GUERRA
Por definição, a Moral é a questão dos princípios enquanto a Ética é a questão dos factos.
Assim, a propósito da guerra em curso na Ucrânia, o tema de agora é o da sua fundamentação moral e da ética dos seus procedimentos.
O resumo dos textos anteriores e respectivos comentários aponta no sentido de que os fundamentos morais (históricos) que a Rússia pudesse invocar antes da invasão da Ucrânia, ruíram fragorosamente perante os procedimentos adoptados no ataque. E eis como, ao contrário da sequência lógica, aqui temos as consequências a condicionar as causas. Até nesta perspectiva, esta guerra é absurda.
Portanto, relegada a moralidade para entretenimento dos historiadores, resta a ética como preocupação dos juízes, nós.
Os banhos de sangue que vimos testemunhando quase em directo diferem radicalmente de todos os outros – praticamente iguais – de que soubemos à distância de séculos ou de uma longa fila de intérpretes precisamente devido ao distanciamento ou da nossa proximidade. E é esta proximidade que, quase em causa própria, nos leva a «afinar» os critérios éticos da guerra.
Por estas razões e muitas outras que me escapam, creio que será oportuno pedir à ONU que elabore um (novo?) «Código da Ética da Guerra».
E, para não avançar por matérias que não domino, fico-me por aqui com a esperança de que surjam ideias complementares ou alternativas às vulgaridades e redu ndâncias que eu pudesse aduzir tais como:
- Num cenário global de paz, consideram-se fixadas as fronteiras políticas internacionalmente reconhecidas no primeiro dia do século XXI, 1 de Janeiro de 2000;
- A destabilização do cenário anterior penalizará o país agressor;
- A vitimização de populações civis constitui crime;
- (…)
Tudo isto se - e só se - o autocrata (eufemismo de ditador) russo não decidir comemorar esta data carregando no botão vermelho.
Alia jacta est.
Lisboa, 9 de Maio de 2022
Henrique Salles da Fonseca