COSMOPOLITISMO - 3
COSMOPOLITISMO – 3
No primeiro texto sob esta mesma epígrafe referi-me ao cosmopolitismo étnico, na perspectiva que deu origem ao conceito a que hoje há quem chame multiculturalismo; no segundo texto referi-me ao cosmopolitismo científico, o antónimo do autismo universitário; no presente texto refiro-me ao cosmopolitismo cultural.
Assim me refiro a uma dimensão macro, a uma micro e a uma dimensão individual. Outras dimensões haverá…
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Em conformidade com o dicionário, cosmopolita é aquele que conhece muitos lugares.
Assim como aquele que sabe muitas coisas não passa de uma enciclopédia, também o maquinista do Transiberiano conhece muitos locais. No entanto, nem um é necessariamente culto nem o outro é necessariamente cosmopolita. Porquê? Porque culto é aquele que busca o significado (das coisas, dos acontecimentos…) e cosmopolita é aquele que busca a epifania (a essência, a História) dos lugares. O cosmopolita é necessariamente culto; o culto pode não ser cosmopolita.
Se a tudo isto juntarmos a afirmação de que «a História é a essência da Cultura», compreendemos a sugestão de James Joyce no sentido de procurarmos descobrir «o que as pedras tenham para nos contar», aquilo a que ele chamava a epifania dos lugares a que eu passei a chamar a epifania joyceana.
Ou seja, para se ser cosmopolita não basta ter um conhecimento topográfico ou pictórico dos lugares visitados, é necessário conhecer-lhes a essência. E para que isto aconteça, é fundamental despertar a curiosidade do candidato a cosmopolita. Curiosidade desperta-se pela boa pedagogia e esta pratica-se nas escolas, nas palestras, nas visitas guiadas… e uma das acções mais importantes é a do combate ao abandono escolar precoce.
A acumulação de vagas sucessivas de desistentes escolares produziu o actual flagelo de uma enorme percentagem da nossa população em idade activa não possuir o ensino obrigatório.
Assim chegamos à conclusão de que nos sobra «chico-espertismo» e nos falta cosmopolitismo.
Abril de 2023
Henrique Salles da Fonseca